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Programa 13: As Vozes de Hoje do Fado - Letras

Acima, a chamada para o Programa 13.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



 



1) Deus também gosta de fado – Rão Kyao & Teresa Salgueiro



Autores: Tó Moliças / Rão Kyao



 



É quando o fado acontece



Que se respira a ventura



De quem da vida se esquece



Na mais lúcida loucura



 



Silêncio de paz divina



Sente-se o tempo parado



Até a gente imagina



Que Deus está ao nosso lado



 



E grito dentro de mim



Com a força do vento irado



Para que o fado seja assim



Deus também gosta de fado



 



2) Canção do mar – Dulce Pontes



Autores: Frederico de Brito / Ferrer Trindade



 



Fui bailar no meu batel



Além do mar cruel



E o mar bramindo



Diz que eu fui roubar



A luz sem par



Do teu olhar tão lindo



 



Vem saber se o mar terá razão



Vem cá ver bailar meu coração



 



Se eu bailar no meu batel



Não vou ao mar cruel



E nem lhe digo aonde eu fui cantar



Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo



 



Vem saber se o mar terá razão



Vem cá ver bailar meu coração



 



Se eu bailar no meu batel



Não vou ao mar cruel



E nem lhe digo aonde eu fui cantar



Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo



 



3) O espírito da carne – Paulo Bragança



Autores: Paulo Bragança



 



Teu corpo



Escultura de carne apetecida



Que me leva à paixão



Me anula a razão



E suicida



 



Teu corpo



Etéria matéria de sangue



Grão de espuma encarnado



Pelo amor devorado



Exangue



 



Teu corpo



Alfa do meu existir total



Cristo de marfim impoluto



Ómega do ser



Absoluto Sensual



 



4) Princesa prometida – Aldina Duarte



Autores: Aldina Duarte / José Marques



 



Há um véu no meu olhar



Que a brilhar dá que pensar



Nos mistérios da beleza



Espelho meu que aconteceu



Do que é teu e do que é meu



Já não temos a certeza



 



A moldura deste espelho



Espelho feito de oiro velho



Tem os traços de uma flor



Muitas vezes foi partido



Prometido e proibido



Aos encantos do amor



 



Espelho meu diz a verdade



Da idade da saudade



À mulher envelhecida



Segue em frente na memória



Mata a glória dessa história



Da princesa prometida.



 



5) Mar Português – Helder Moutinho



Autores: José Campos / Fernando Pessoa



 



Ó, mar salgado



Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal



 



Por te cruzarmos quantas mães choraram



Quantos filhos em vão rezaram



Quantas noivas ficaram por casar



Para que fosses nosso, ó mar



 



Valeu a pena, sempre vale a pena



Se alma não é pequena



 



Quem passar além do Bojador



Tem de passar além da dor



 



Deus, ao mar o perigo e o abismo deu



Mas nele é que espelhou o céu



 



Ó, mar salgado!



 



6) O negro fica-lhe bem – Pedro Moutinho



Autores: António dos Santos / Hélder Moutinho



 



Vestida de noite escura



De madrugada tambêm



Tem um olhar de ternura



E o negro fica-lhe bem



 



Tem uma voz que é do vento



Que é do vento e de ninguem



É um grito e um lamento



E o negro fica-lhe bem



 



Senhora dona do fado



E de Lisboa tambêm



Tens um olhar tão magoado



E o negro fica-te bem.



 



7) Sopra o vento – Joana Amendoeira



Autores: Fernando Pessoa / Paulo Paz



 



Sopra o vento, sopra o vento,



Sopra alto o vento lá fora,



Mas também meu pensamento



Tem um vento que o devora.



 



Há uma íntima intenção



Que tumultua o meu ser



E faz do meu coração



O que um vento quer varrer;



 



Não sei se há ramos deitados



Abaixo no temporal,



Se pés do chão levantados



Num sopro onde tudo é igual



 



Dos ramos que ali caíram



Sei só que há mágoas e dores



Destinadas a não ser



Mais que um desfolhar de flores.



 



Sopra o vento, sopra o vento,



Sopra alto o vento lá fora,



Mas também meu pensamento



Tem um vento que o devora.



 



8) Asas – Kátia Guerreiro



Autores: Maria Luisa Baptista / Georgino de Sousa



 



É no teu corpo que invento



Asas para o sofrimento



Que escorre do meu cansaço.



Só quem ama tem razão



Para entender a emoção



Que me dás no teu abraço.



 



Eu quero lançar raízes



E viver dias felizes



Na outra margem da vida.



Solta os cabelos ao vento,



Muda em riso esse lamento,



Apressemos a partida.



 



Aceita o meu desafio,



Embarca neste navio,



Rumo ao sol e ao futuro.



Corta comigo as amarras       



Que nos prendem como garras         



A um passado tão duro.



 



Esquece o tempo e a dor,



Pensa só no nosso amor,



Vem, dá-me a tua mão.



Sobe comigo a encosta,



Porque quando a gente gosta



Ninguém cala o coração.



 



9) Grito – Ricardo Ribeiro



Autores: Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves



 



Silêncio! Do silêncio faço um grito



O corpo todo me dói



Deixai-me chorar um pouco.



De sombra a sombra



 



Há um céu tão recolhido De sombra a sombra



Já lhe perdi o sentido. Ao céu!



 



Aqui me falta a luz. Aqui me falta uma estrela



Chora-se mais quando se vive atrás dela.



 



E eu, a quem o céu esqueceu



Sou a que o mundo perdeu



Só choro agora



Que quem morre já não chora.



 



Solidão! Que nem mesmo essa é inteira...



Há sempre uma companheira, uma profunda amargura.



 



Ai, solidão, quem fora escorpião



Ai! Solidão.



E se mordera a cabeça!



 



Adeus



Já fui para além da vida do que já fui tenho sede



Sou sombra triste encostada a uma parede.



Adeus,



Vida que tanto duras, vem morte que tanto tardas



Ai, como dói a solidão quase loucura.



 



Já fui para além da vida do que já fui tenho sede



Sou sombra triste encostada a uma parede.



Adeus,



Vida que tanto duras, vem morte que tanto tardas



Ai, como dói a solidão quase loucura.



 



10) Solidão – Marco Rodrigues



Autores: Ferrer Trinidade / Reinaldo Ferreira



 



Solidão de quem tremeu



A tentação do céu e dos encantos



O que o céu me deu



Serei bem eu sob este véu de pranto



 



Sem saber se choro algum pecado



A tremer imploro o céu fechado



 



Triste amor, o amor de alguém



Quando outro amor se tem abandonado



E não me abandonei



Por mim, ninguém já se detém na estrada



 



Solidão de quem tremeu



A tentação do céu e dos encantos



O que o céu me deu



Serei bem eu sob este véu de pranto



 



Sem saber se choro algum pecado



A tremer imploro o céu fechado



 



Triste amor, o amor de alguém



Sob este véu de pranto



Solidão



 



11) Com que voz – Ana Maria Bobone



Autores: Alain Oulman / Luis de Camões



 



Com que voz chorarei meu triste fado



Que em tão dura paixão me sepultou



Que mor não seja a dor que me deixou



O tempo, que me deixou o tempo de meu bem desenganado



 



Mas chorar não estima neste estado



Aonde suspirar nunca aproveitou



Triste quero viver, pois se mudou



Em tristeza a alegria do passado



 



(Assim a vida passo descontente



Ao som nesta prisão do grilhão duro



Que lástima ao pé que a sofre e sente.)



 



De tanto mal, a causa é amor puro



Devido a quem de mim tenho ausente



Por quem a vida e bens dele aventuro



 



12) Pouco tempo – Ana Laíns



Autores: Lídia Oliveira / Diogo Clemente



 



É pouco o meu tempo



Para guardar tudo o que trago em pensamento



Para escrever tudo o que sinto cada momento



 



É pouco o meu tempo



Para eternizar tudo o que corre veloz, no vento



Mostrando assim, bem mais profundo meu sentimento



 



É pouco o meu tempo



Para sentir quanta beleza me passa ao lado



Sem alterar este meu ar preocupado



 



É pouco o meu tempo



Para conseguir ter o que quero da minha vida



No que passou, alguma ilusão perdida



Mas no que resta, a esperança ainda vivida



 



13) Fado do ladrão enamorado – Nuno Câmara Pereira



Autores: Carlos Tê / Rui Veloso



 



Vê se pões a gargantilha



Porque amanhã é domingo



E eu quero que o povo note



A maneira como brilha



No bico do teu decote



 



E se alguém perguntar



Dizes que eu a comprei



Ninguém precisa saber



Que foi por ti que a roubei



 



E se alguém desconfiar



Porque não tenho um tostão



Dizes que é uma vulgar



Joia de imitação



 



Nunca fui grande ladrão



Nunca dei golpe perfeito



Acho que foi a paixão



Que me aguçou o jeito



 



Por isso põe a gargantilha



Porque amanhã é domingo



E eu quero que o povo note



A maneira como brilha



No bico do teu decote



 



14) Meditando eu a vi – João Pedro & Raquel Tavares



Autor: Jorge Fernando



 



Meditando eu a vi



Olhar preso no além



Olhos, misto de ternura e de fé



Lembrando a minha mãe



 



Conversamos sobre a cor



Do mar em tempestade



Foi então que ela sorriu e o amor



Fez-se flor nessa tarde



 



Tão pouco foi o nosso tempo



Para tão grande paixão



Perdoa amor, eu partir sem adeus



Tarde na vida



Encontrei o teu amor, a tua mão



Mas espero, amor, o teu perdão e o de Deus



 



Setembro ia caindo



E o mar se agigantava



E essa força que no tempo nos unia



Dia a dia aumentava



 



Mas o mar que tanto amara



Nos seus braços a levou



Sobre a areia que o mar há pouco molhara



O recado deixou



 



Então soube que ela descobriu a cor



Do mar em tempestade



 



15) Valeu a pena – Maria da Fé



Autor: Mário Moniz Pereira



 



Com voz serena



perguntaram-me ao ouvido



valeu a pena



vir ao mundo e ter nascido



 



Com lealdade



vou responder, mas primeiro



consultei meu travesseiro



sobre a verdade



 



Tive porém, que lembrar o meu passado



horas boas do meu fado



e as más também



 



Valeu a pena ter vivido o que vivi



valeu a pena ter sofrido o que sofri



valeu a pena ter amado quem amei



ter beijado quem beijei valeu a pena



 



Valeu a pena ter sonhado o que sonhei



valeu a pena ter passado o que passei



valeu a pena conhecer quem conheci



ter sentido o que senti valeu a pena



 



valeu a pena ter cantado o que cantei



ter chorado o que chorei valeu a pena



Valeu a pena ter amado quem amei



ter beijado quem beijei valeu a pena



 



Valeu a pena ter cantado o que cantei



ter chorado o que chorei valeu a pena


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