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Programa 4: Amália Rodrigues II - Letras

Acima, a chamada para o Programa 4.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



1) Nem às paredes confesso



            Autores: Max  Artur Ribeiro / Ferrer Trindade



 



Não queiras gostar de mim, sem que eu te peça



Nem me dês nada que ao fim, eu não mereça



Vê se me deitas depois culpas no rosto



Isto é sincero porque não quero dar-te um desgosto



 



De quem eu gosto nem às paredes confesso



E até aposto que não gosto de ninguém



Podes sorrir, Podes mentir, podes chorar também



De quem eu gosto, nem às paredes confesso



 



Quem sabe se te esqueci ou se te quero



Quem sabe até se é por ti por quem eu espero



Se eu gosto ou não afinal, isso é comigo



Mesmo que penses que me convences nada te digo



 



De quem eu gosto nem às paredes confesso



E até aposto que não gosto de ninguém



Podes sorrir, podes mentir, podes chorar também



De quem eu gosto, nem às paredes confesso



 



02) Confesso



           Autores: Frederico Valério / José Galhardo



 



Confesso que te amei, confesso



Não coro de o dizer, não coro



Pareço outra mulher, pareço



Mas lá chorar por ti, não choro



 



Fugir do amor tem seu preço



E a noite em claro atravesso



Longe do meu travesseiro



Começo a ver que não esqueço



Mas lá perdão não te peço



Sem que me peças primeiro



 



De rastos a teus pés perdida te adorei



Até que me encontrei, perdida



Agora já não és na vida o meu senhor



Mas foste o meu amor, na vida



 



Não penses mais em mim, não penses



Não estou nem p'ra te ouvir por carta



Convences as mulheres, convences



Estou farta de o saber, estou farta



 



Não escrevas mais, nem me incenses



Quero que tu me diferences



Dessas que a vida te deu



A mim já não me pertences



Mas lá vencer-me não vences



Porque vencida estou eu



 



De rastos a teus pés perdida te adorei



Até que me encontrei, perdida



Agora já não és na vida o meu senhor



Mas foste o meu amor, na vida.



 



3) Maldição



        Autores: Alfredo Marceneiro q Armando Vieira Pinto



 



Que destino ou maldição



Manda em nós, meu coração!



Um do outro assim perdidos



Somos dois gritos calados



Dois fados desencontrados



Dois amantes desunidos



 



Por ti, sofro e vou morrendo



Não te encontro, nem te entendo



Amo e odeio sem razão



Coração, quando te cansas



Das nossas mortas esperanças



Quando paras, coração?



 



Nesta luta, esta agonia



Canto e choro de alegria



Sou feliz e desgraçada



Que sina a tua, meu peito



Que nunca estás satisfeito



Que dás tudo e não tens nada!



 



A gelada solidão



Que tu me dás, coração



Não é vida, nem é morte



É lucidez, desatino



De ler no próprio destino



Sem poder mudar-lhe a sorte



 



4) Eu queria cantar-te um fado



       Autores: Franklin Godinho / António de Sousa Freitas



 



Eu queria cantar-te um fado



Que toda a gente ao ouvi-lo



Visse que o fado era teu



Fado estranho e magoado



Mas que pudesse senti-lo



Tão na alma como eu



 



E seria tão diferente



Que ao ouvi-lo toda a gente



Dissesse quem o cantava



Quem o escreveu não importa



Que eu andei de porta em porta



Para ver se te encontrava



 



Eu hei-de por nalguns versos



No fado que há nos teus olhos,



O fado da tua voz.



Nossos fados são diversos



Tu tens um fado, eu tenho outro



Triste fado temos nós



 



5) Maria Lisboa



          Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira



 



É varina, usa chinela / Tem movimentos de gata



Na canastra, a caravela / No coração, a fragata



 



Em vez de corvos no xaile gaivotas vêm poisar



Quando o vento a leva ao baile, baila no baile com o mar



 



É de conchas o vestido, tem algas na cabeleira



E nas veias, o latido do motor duma traineira



 



Vende sonho e maresia, tempestades apregoa



Seu nome próprio, Maria. Seu apelido, Lisboa



 



6) Madrugada de Alfama



        Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira



 



Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a madrugada,



Mas ela, de tão estouvada, nem sabe como se chama



 



Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama



E que o sol primeiro inflama quando acorda à madrugada.



Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama.



 



Nem mesmo na Madragoa ninguém compete com ela,



Que do alto da janela tão cedo beija Lisboa.



 



E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa:



Madragoa não perdoa que madruguem mais do que ela



E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa.



 



Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a madrugada;



São mastros de luz doirada os ferros da sua cama.



 



E a sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa,



É como a estátua de proa que anuncia a caravela,



A sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa.



 



7) Povo que lavas no rio – Amália Rodrigues



              Autores: Joaquim Campos / Pedro Homem de Mello



 



Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado



As tábuas do meu caixão



Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado



As tábuas do meu caixão



Pode haver quem te defenda, quem compre o teu chão sagrado



Mas a tua vida não



 



Fui ter à mesa redonda beber em malga que esconda



O beijo de mão em mão



Fui ter à mesa redonda beber em malga que esconda



O beijo de mão em mão



Era o vinho que me deste, água pura, fruto agreste



Mas a tua vida não



 



Aromas de urze e de lama, dormi com eles na cama



Tive a mesma condição



Aromas de urze e de lama, dormi com eles na cama



Tive a mesma condição



Povo, povo, eu te pertenço. Deste-me alturas de incenso



Mas a tua vida não



 



Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado



As tábuas do meu caixão



Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado



As tábuas do meu caixão



Pode haver quem te defenda, quem compre o teu chão sagrado



Mas a tua vida não



 



8) Cuidei que tinhas morrido



            Autores: Autores: Alain Oulman / Pedro Homem de Mello



 



Ao passar pelo ribeiro



Onde às vezes me debruço



Fitou-me alguém corpo inteiro



Dobrado como um soluço



 



Pupilas negras, tão lassas



Raízes iguais às minhas



Meu amor, quando me enlaças



Porventura as adivinhas



Meu amor, quando me enlaças



 



Que palidez nesse rosto



Sob o lençol do luar



Tal e qual quem, ao sol posto



Estivera agonizar



 



Deram-me então por conselho



Tirar de mim o sentido



Mas depois vendo-me ao espelho



Cuidei que tinha morrido



Cuidei que tinhas morrido



 



 



9) Abandono



          Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira



 



Por teu livre pensamento



Foram-te longe encerrar



Tão longe que o meu lamento



Não te consegue alcançar



E apenas ouves o vento



E apenas ouves o mar



 



Levaram-te a meio da noite



A treva tudo cobria



Foi de noite numa noite



De todas a mais sombria



Foi de noite, foi de noite



E nunca mais se fez dia.



 



Ai! Dessa noite o veneno



Persiste em me envenenar



Oiço apenas o silêncio



Que ficou em teu lugar



E ao menos ouves o vento



E ao menos ouves o mar



 



10) Trova do vento que passa



           Autores: Alain Oulman / Manuel Alegre



 



Pergunto ao vento que passa notícias do meu país



E o vento cala a desgraça, o vento nada me diz?



 



Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas



E os rios não me sossegam, levam sonhos deixam mágoas



 



Levam sonhos deixam mágoas. Ai, rios do meu país



Minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz



 



Se o verde trevo desfolhas, pede notícias e diz



Ao trevo de quatro folhas que eu morro por meu país



 



 



11) Gaivota



           Autores:  Autores: Alain Oulman / Alexandre O'Neill



 



Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa



No desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar



É uma asa que não voa, esmorece e cai no mar.



 



Que perfeito coração no meu peito bateria,



Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia



Perfeito o meu coração.



 



Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho,



Fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse,



Se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse.



 



Que perfeito coração morreria no meu peito,



Meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito



Bateu o meu coração.



 



Que perfeito coração no meu peito bateria,



Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia



Perfeito o meu coração.



 



12) Com que voz – Amália Rodrigues



           Autores: Alain Oulman / Luís de Camões



                          



Com que voz chorarei meu triste fado



Que em tão dura paixão me sepultou



Que mor não seja a dor que me deixou



O tempo, que me deixou o tempo de meu bem desenganado



 



Mas chorar não estima neste estado



Aonde suspirar nunca aproveitou



Triste quero viver, pois se mudou



Em tristeza a alegria do passado, a alegria do passado



 



De tanto mal, a causa é amor puro



Devido a quem de mim tenho ausente



Por quem a vida e bens dele aventuro



Por quem a vida e bens dele aventuro



 



(Assim a vida passo descontente



Ao som nesta prisão do grilhão duro



Que lástima ao pé que a sofre e sente.)



 



13) Havemos de ir a Viana – Amália Rodrigues



         Autores: Alain Oulman / Pedro Homem de Mello



 



Entre sombras misteriosas



Em rompendo ao longe estrelas



Trocaremos nossas rosas



Para depois esquecê-las



 



Se o meu sangue não me engana



Como engana a fantasia



Havemos de ir a Viana



Ó meu amor de algum dia



Ó meu amor de algum dia



Havemos de ir a Viana



Se o meu sangue não me engana



Havemos de ir a Viana



 



Partamos de flor ao peito



Que o amor é como o vento



Quem pára perde-lhe o jeito



E morre a todo o momento



 



Refrão



 



Ciganos verdes ciganos



Deixai-me com esta crença



Os pecados têm vinte anos



Os remorsos têm oitenta



 



Refrão



 



14) Coimbra – Louis Armstrong + Amália



               Autores: José Galhardo / Raul Ferrão / José dos Santos



 



Coimbra do choupal



Ainda és capital



Do amor em Portugal, ainda



Coimbra onde uma vez



Com lágrimas se fez



A história dessa Inês tão linda



 



Coimbra das canções



Tão meiga que nos pões



Os nossos corações, à nu



Coimbra dos doutores



Pra nós os teus cantores



A fonte dos amores és tu



 



Coimbra é uma lição



De sonho e tradição



O lente é uma canção



E a lua, a faculdade



O livro é uma mulher



Só passa quem souber



E aprende-se a dizer saudade


Áudio