Agora
-
-
Unesp FM ao vivo

Programa 1: Fado - Introdução I - Letras

Acima, a chamada para o Programa 1.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



1) Maria Severa – Argentina Santos



             Autores: José Galhardo / Raul Ferrão



 



Num beco da Mouraria, onde a alegria e o sol não vêm



Morreu Maria Severa, sabem quem era



Talvez ninguém



 



Uma voz sentida e quente que hoje à terra disse adeus



Voz saudosa, voz ausente, mas que vive eternamente



Dentro em nós e junto a Deus



Além nos céus



 



Bem longe onde o luar no azul tem mais luz



Eu vejo-a rezar aos pés de uma cruz



Guitarras trinai viradas pro céu



Fadistas chorai porque ela morreu



 



Caiu a noite na viela quando o olhar dela



Deixou de olhar. Partiu pra sempre, vencida



Deixando a vida que a fez chorar



 



Deixa um filho idolatrado que outro afeto igual não tem



Chama-se ele o triste fado. Que vai ser desse enjeitado



Se perdeu o maior bem, o amor de mãe



 



Bem longe onde o luar...



 



2) Antes e Depois – Alfredo Marceneiro & Fernando Farinha



            Autores: Fernando Farinha / João da Mata



 



Minha guitarra é vaidosa, mas vaidosa com encanto



Sente-se toda orgulhosa, todas as vezes que canto



 



Alfredo quando tu cantas, cantas com tanta saudade



Eu sinto que tu encantas toda a minha mocidade



 



Dizem que o fado desgraça o fado de muita gente



Mentira, o fado não passa dum fado que qualquer sente



 



O fado é a voz do povo que com o povo nasceu



Tu és antigo e eu sou novo será meu o que foi teu



 



Entre fadistas de lei com meu concurso não falto



Tenho orgulho em ser da grei dos faias do Bairro Alto



 



Apesar de muito novo quando canto uma cantiga



Faço recordar ao povo a fadistagem antiga



 



A minha pobre garganta já não tem a voz de outrora



Mas quando canta, ainda canta ao pé das vozes de agora



 



Quem sabe meu pioneiro se nesta história não fica



O Alfredo Marceneiro junto ao “Miúdo da Bica”



 



3) Fado bailado – Alfredo Marceneiro



                        Autores: Henrique Rego / Alfredo Marceneiro



 



À mercê dum vento brando bailam rosas nos vergeis



E as Marias vão bailando enquanto vários Manéis



Nos harmónios vão tocando



 



Tudo baila, tudo dança, nosso destino é bailar



E até mesmo a doce esperança dum lindo amor se alcançar



De bailar nunca se cansa



 



Baila o nome de Jesus em milhões de lábios crentes



Em bailado que seduz e as falenas inocentes



Bailam à roda da luz



 



A folhagem ressequida baila envolvida em poeira



E com a razão perdida há quem leve a vida inteira



A bailar com a própria vida



 



Tudo baila, tudo dança. Nosso destino é bailar



E até mesmo a doce esperança dum lindo amor se alcançar



De bailar nunca se cansa



 



4) Estranha forma da vida – Amália Rodrigues/Lisbon City Rockers



             Autores: Amália Rodrigues / Alfredo Marceneiro



 



Foi por vontade de Deus que eu vivo nesta ansiedade



Que todos os ais são meus, que é toda minha a saudade



Foi por vontade de Deus



 



Que estranha forma de vida tem este meu coração



Vive de vida perdida, quem lhe daria o condão



Que estranha forma de vida



 



Coração independente, coração que não comando



Vive perdido entre a gente teimosamente sangrando



Coração independente



 



Eu não te acompanho mais. Pára, deixa de bater



Se não sabes onde vais por que teimas em correr



Eu não te acompanho mais



 



Se não sabes onde vais por que teimas em correr



Eu não te acompanho mais



 



5) A Casa da Mariquinhas – Alfredo Marceneiro                      



            Autores: Silva Tavares / Alfredo Marceneiro



 












É numa rua bizarra



A casa da mariquinha



Tem na sala uma guitarra



E janelas com tabuinhas



 



Vive com muitas amigas



Aquela de quem vos falo



E não há maior regalo



Que a vida de raparigas



É doida pelas cantigas



Como no campo a cigarra



Canta o fado à guitarra



De comovida até chora



A casa alegre onde mora



É numa rua bizarra



 



Para se tornar notada



Usa coisas esquisitas



Muitas rendas, muitas fitas



Lenços de cor variada.



Pretendida, desejada



Altiva como as rainhas



Ri das muitas, coitadinhas



Que a censuram rudemente



Por verem cheia de gente



A casa da Mariquinhas



       



 



 



 



É de aparência singela



Mas muito mal mobilada



E no fundo não vale nada



O tudo da casa dela



No vão de cada janela



Sobre coluna, uma jarra



Colchas de chita com barra



Quadros de gosto magano



Em vez de ter um piano



Tem na sala uma guitarra



 



Pra guardar o parco espólio



Um cofre forte comprou



E como o gás acabou



Ilumina-se a petróleo.



Limpa as mobílias com óleo



De amêndoa doce e mesquinhas



Passam defronte as vizinhas



Pra ver o que lá se passa



Mas ela tem por pirraça



Janelas com tabuinhas



 



 




 



6) Vou dar de beber à dor – Amália Rodrigues



             Autor: Alberto Janes



 












Foi no Domingo passado que passei



À casa onde vivia a Mariquinhas,



Mas está tudo tão mudado



Que não vi em nenhum lado



As tais janelas que tinham tabuinhas.



 



Do rés-do-chão ao telhado



Não vi nada, nada, nada



Que pudesse recordar-me a Mariquinhas,



E há um vidro pregado e azulado



Onde havia as tabuinhas.



 



Entrei e onde era a sala agora está



À secretária um sujeito que é lingrinhas,



Mas não vi colchas com barra



Nem viola, nem guitarra,



Nem espreitadelas furtivas das vizinhas.



 



O tempo cravou a garra



Na alma daquela casa



Onde às vezes petiscávamos sardinhas



Quando em noites de guitarra e de farra



Estava alegre a Mariquinhas.



      



   Com cortinados de chita às pintinhas



   Perderam de todo a graça



   Porque é hoje uma vidraça



   Com cercadura de lata às voltinhas.



 



   E lá pra dentro quem passa



   Hoje é pra ir aos penhores



   Entregar ao usurário umas coisinhas,



   Pois chega a esta desgraça toda a graça



   Da casa da Mariquinhas.



 



   Pra terem feito da casa o que fizeram



   Melhor fora que a mandassem pras alminhas,



   Pois ser casa de penhores



   O que foi viveiro d'amores



   É ideia que não cabe cá nas minhas



 



   Recordações do calor e das saudades.



   O gosto que eu vou procurar esquecer



   Numas ginginhas,



   Pois dar de beber à dor é o melhor,



   Já dizia a Mariquinhas.




 



7) Mariquinhas – Gisela João



             Autores: Capicua /Alberto Janes



 












Foi numa ruela escura que encontrei



A tal casa do fado “A Mariquinhas”



Que de Alfredo Marceneiro



Veio ao nosso cancioneiro



Como sendo uma casa de meninas



E com o tempo passado



Foi na voz da Dona Amália



Que a casa foi da desgraça às ginjinhas



E que mesmo com um fado renovado



Já não tinha nem sardinhas



 



Depois veio a Hermínia Silva que cantou



O regresso da saudosa Mariquinhas



Mas foi sol de pouca dura



Que mesmo sem ditadura



Hoje em dia até as vacas são lingrinhas



 



Agora veem meus olhos



Que nem amor, nem penhor



Esta casa está mais velha que as vizinhas



As janelas estão tapadas com tijolos



E as paredes estão sozinhas



 



Só um gato solitário no telhado



E uma placa que está cheia de letrinhas



Vende-se, oca e esburacada



Por fora toda riscada



E encostada, na fachada, uma menina



       



 



 



 



 



 



Mas esta não canta o fado



Só sabe fumar cigarro e com o fumo



Quando sopra faz bolinhas



Não sabe quem já morou naquele espaço



Ou quem foi a Mariquinhas



 



E aqui estou eu à porta desgostosa



Vendo a casa que está morta e em ruínas



Por causa destes senhores



Até já nem tem penhores



Porque mais ninguém tem ouro nas voltinhas



 



Mas seu eu fechar os olhos



E imaginar as farras



Ainda se ouve as guitarras e cantigas



Porque a casa é a canção que sei de cor



E vou cantar toda a vida



Porque a casa é a canção que sei de cor



E vou cantar toda a vida!



 




 



8) Meu amor, meu amor (Meu limão de amargura) – Amália Rodrigues/ Gisela João & Camané/ Metrô



             Autores: Ary Dos Santos / Alain Oulman



 



Meu amor meu amor, meu corpo em movimento



Minha voz à procura do seu próprio lamento



 



Meu limão de amargura, meu punhal a escrever



Nós parámos o tempo, não sabemos morrer



E nascemos, nascemos do nosso entristecer



 



Meu amor, meu amor, meu nó de sofrimento



Minha mó de ternura, minha nau de tormento



 



Este mar não tem cura, este céu não tem ar



Nós parámos o vento, não sabemos nadar



E morremos, morremos - devagar, devagar


Áudio