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Programa 2: Fado - Introdução II - Letras

Acima, a chamada para o Programa 2.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



1) Fado Hilário (A minha capa velhinha) – Luiz Góes



          Autor: Augusto Hilário



 



A minha capa velhinha



É da cor da noite escura,



A minha capa velhinha



É da cor da noite escura



 



Nela quero amortalhar-me,



Quando for prá sepultura.



Nela quero amortarlhar-me, ai



Quando for p’ra sepultura.



 



Ela há-de contar aos vermes, ai



Já que eu não posso falar



Ela há-de contar aos vermes, ai



Já que eu não posso falar



Segredos luarizados, ai



Da minh’alma a soluçar, ai



 



Eu quero que o meu caixão



Tenha uma forma bizarra,



Eu quero que o meu caixão



Tenha uma forma bizarra,



A forma de um coração,



Ai!… A forma duma guitarra



A forma de um coração,



Ai!… A forma de uma guitarra



 



2) Fado da despedida (Quando passas nos meus olhos) – Café Santa Cruz



            Autores: Luiz Góes



 



Quando passas nos meus olhos



Nunca és o que eu sonhei



Se és vida, nunca vivi



Se és amor, nunca te amei



 



Não podes negar-me um beijo



Senhora da minha vida



Nunca se nega uma esmola



A uma alma perdida



 



3) Elegia – Café Santa Cruz (Manuel Alegre / António Portugal)           



            Autores: Zeca Afonso/ Luís de Andrade



 



O vento desfolha a tarde



Como a dor desfolha o peito



 



Vai-se a tarde, ficam penas



Na roseira do meu peito



 



E se à tarde ficam penas



Senhora por vós eu morro



 



Na roseira do meu peito



Senhora meu bem fermosa



 



4) Um canto de dor e mágoa – Café Santa Cruz           



            Autores: Tánia Rodrigues / Vitorino & Carlos Jesus



 



À noite fiz minha cama



E meu amor fui guardar



Cobri-o todo de estrelas



E os olhos de luar



 



Mas o vento segredava



Um canto de dor e mágoa



A morte o aprisionava



Enchendo meu olhar d’água



 



Meu pranto ergui ao céu



Das lágrimas se fez mar



À noite fiz minha campa



Sem meu amor encontrar



 



5) Rapsódia de Fados – Lucília do Carmo



            Autores: Linhares Barbosa / Popular



 



O triste Fado Menor / Fez-me soltar mil queixumes



Queixumes do meu amor / Que me mata de ciúmes



 



O meu amor desprezou-me / Trocou-me a outra mulher



Mas o que mais me consome / É o que ele anda a dizer



 



Guitarra, toca o Corrido / Quero deixar de ser triste



Fazer de conta que ele / Já para mim não existe



 



Dá mais valor aos teus dias / Deixa-me cantar contigo



No Corrido ou no Dois Tons / Já que ele correu comigo



 



Devagar, guitarra amiga / Que o meu peito já cansou



Esqueceu-me uma cantiga / Que o meu amor me ensinou



 



Mudaste pra Mouraria / Triste fado da Severa



Não posso ter alegria / Meu coração ainda o espera



 



6) Não venhas tarde – Carlos Ramos



             Autores: Aníbal Nazaré / João Nobre



 



Não venhas tarde...



Dizes-me tu, com carinho



Sem nunca fazer alarde do que me pedes baixinho



Não venhas tarde...



Eu peço a Deus, que no fim



Teu coração ainda guarde um pouco de amor por mim



 



Tu sabes bem



Que eu vou pra outra mulher



Que ela me prende também



Que eu só faço o que ela quer



Tu estás sentindo



Que te minto e sou cobarde



Mas sabes dizer, sorrindo



Meu amor, não venhas tarde



 



Não venhas tarde, dizes-me sem azedume



Quando o teu coração arde na fogueira do ciúme



Não venhas tarde, dizes-me tu, da janela



Eu venho sempre mais tarde porque não sei fugir dela



 



Tu sabes bem



Que eu vou pra outra mulher



Que ela me prende também



Que eu só faço o que ela quer



Sem alegria



Eu confesso, tenho medo



Que tu me digas um dia



Meu amor, não venhas cedo



 



Por ironia...



Pois nunca sei onde vais



Que eu chegue cedo algum dia



E seja tarde demais



 



7) O embuçado – João Ferreira Rosa



            Autores: Alcídia Rodrigues / Gabriel Oliveira



 



Noutro tempo a fidalguia



Que deu brado nas toiradas



Andava pela mouraria



Em muito palácio havia



Descantes e guitarradas



 



E a história que eu vou contar



Contou-ma certa velhinha



De uma vez que eu fui cantar



Ao salão de um titular



Lá pró paço da rainha



 



E nesse salão dourado



De ambiente nobre e sério



Para ouvir cantar o fado



Ia sempre um embuçado



Personagem de mistério



 



Mas certa noite houve alguém



Que lhe disse erguendo a fala



Embuçado, nota bem, que hoje não fique ninguém



Embuçado nesta sala!



 



E ante admiração geral



Descobriu-se o embuçado



Era el-rei de Portugal, houve beija-mão real



E depois cantou-se o fado



 



8) O fado chora-se bem – Maria da Fé



             Autores: Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves



 



Moram numa rua escura



A tristeza e a amargura



A angústia e a solidão;



No mesmo quarto fechado



Também lá mora o meu fado



E mora o meu coração



 



Tantos passos temos dado



Nós as três de braço de dado / Eu a tristeza e a amargura



Á noite um fado chorado



Sai deste quarto fechado / E enche esta rua tão escura



 



Somos vizinhos do tédio



Senhor que não tem remédio / Na persistência que tem



Vem p'ró meu quarto fechado



Senta-se ali a meu lado / Não deixa entrar mais ninguém



 



Nesta risonha morada



Não há lugar p'ra mais nada / Não cabe lá mais ninguém



Só lá cabe mais um fado



Que neste quarto fechado / O fado chora-se bem



 



9) Sou Um Fado Desta Idade – Beatriz da Conceição



             Autores: Rogério Bracinha / Ferrer Trindade



 



Fados são belas cantigas, alegres, amigas



Deixem de os cantar tristonhos, dolentes, medonhos



 



Façam os fados activos se os querem ver vivos



Pode o fado ser eterno



Ritmado, alegre, bailado, moderno



 



Sou um fado desta idade



Saltadinho com viveza



Sabe bem não ter saudade, saudade, saudade



Saudade faz tristeza



 



Cá por dentro o sangue ferve



À moleza vou dar fim



Sofre tanto que não serve, não serve, não serve



Não serve pra mim



 



Vamos! Cantem este fado, mexido, marcado



Fado assim é divertido, pulado, batido



 



Tem em si um ar de festa, bem nossa, modesta



Mas que mesmo portuguesa



Perdeu a tristeza, ganhou em beleza



 



10) Isto é Fado – Fernanda Maria



        Autores: Fernando Farinha / José Marques – José Duarte – Alfredo Marceneiro – Casimiro Ramos – Joaquim Campos



 



Um fidalgo dos antigos



Veio há dias cá jantar



Trouxe consigo uns amigos



E pediu-me pra cantar



 



Depois da luz apagada



Fiz sinal ao guitarrista



E de forma afadistada



Até alta madrugada



Mostrei-lhe o que é ser fadista



 



Cantei também o Corrido



Que o fidalgo destemido



Ao ver-me cantar assim



Tirou a velha samarra



Depois pegou na guitarra



E quis cantar para mim



 



À modesta parede se encostou



E num sentir que a todos comoveu



A sua voz cansada me contou



Belezas dum passado que viveu



 



E foi desde este dia



Que eu fiquei a saber



Que o fado não é só



Canção dum desgraçado



É um simples lamento



Que todos podem ter



Que transformado em verso



Se transforma num fado



 



11) Diz que é fado – Maria de Medeiros



              Autor: Maria de Medeiros



 












Se é fado



Clama a melancolia



E uma saudade tardia



De um carinho desgarrado



 



Diz que é fado



Não me ria que é pecado



Siga a trilha do passado



Deixa o jogo empatado



 



Se é fado



Se é assim não quero fado



Amargo



Tanto amor amordaçado



 



Perdido



No teu destino acanhado



Calado



Num breu denso ancorado



 



Mas se é fado



Vamos lembrar o passado



E esse beijo que foi dado



Que foi dado e não roubado



 



Amigo



Deixa correr o enfado



Ai, do amor abismado



Do nosso destino atado



 



E se é fado



Este também é meu fado



Arfado



No teu peito abraçado



 



Irmão



Teu temor está perdoado



Lavado



Que o perdão também é fado



 



Se é fado



Cai a noite ao nosso lado



Com o mesmo suspiro alado



Que traçou o nosso fado



 



Se é fado



Partam barcos, luzam estrelas



Ergam-se na noite velas



A caminho da manhã



 



Achado



Teu sorriso rompa o mundo



Profundo



Sou o canto que nos une



 



Lembrado



Este amor desencontrado



Amado



Então sim eu sei – é fado




 



12) Maldição – Gisela João



             Autores: Alfredo Marceneiro / Armando Vieira Pinto



 



Que destino ou maldição



Manda em nós, meu coração!



Um do outro assim perdidos



Somos dois gritos calados



Dois fados desencontrados



Dois amantes desunidos



 



Por ti, sofro e vou morrendo



Não te encontro, nem te entendo



Amo e odeio sem razão



Coração, quando te cansas



Das nossas mortas esperanças



Quando paras, coração?



 



Nesta luta, esta agonia



Canto e choro de alegria



Sou feliz e desgraçada



Que sina a tua, meu peito



Que nunca estás satisfeito



Que dás tudo e não tens nada!



 



A gelada solidão



Que tu me dás, coração



Não é vida, nem é morte



É lucidez, desatino



De ler no próprio destino



Sem poder mudar-lhe a sorte


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