Na sexta-feira agora, dia 22, é comemorado o Dia Mundial da Água e nós vamos trazer no “Em Pauta”, ao longo desta semana, pesquisas que trabalham com diferentes aspectos ligados à preservação desse recurso natural finito. Começamos hoje com uma reflexão mais ampla sobre a escassez de água no mundo. A repórter Janice Sato conversa com o professor da USP, Alexander Turra, coordenador da cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano.
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CRISE HÍDRICA (18/03/2024)
Mais da metade dos grandes reservatórios de água do mundo estão secando. É o que revela um estudo publicado na Revista Science, realizado por uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos, França e Arábia Saudita, que analisou os maiores reservatórios e lagos globais comparando quase três décadas de dados. A pesquisa mostra que 53% dos quase 2 mil lagos e reservatórios do mundo analisados apresentaram uma diminuição no armazenamento de água nos últimos 30 anos. Os fatores responsáveis por isso seriam as mudanças climáticas e o excessivo consumo humano.
O docente do Instituto Oceanográfico da USP, Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e coordenador da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, comenta que vários fatores contribuem para a crise hídrica.
Alguns locais de água doce mais importantes do mundo - como o Mar Cáspio na Ásia central e o Lago Titicaca na América do Sul - perderam uma taxa de cerca de 22 gigatoneladas por ano no período analisado. Isso representa quase 17 vezes o volume do Lago Mead, o maior reservatório dos EUA. A perda de volume nos lagos naturais foi atribuída ao aquecimento climático e ao consumo humano, enquanto a perda em reservatórios é dominada pela sedimentação, a erosão de terrenos, o que compromete a oferta de água doce.
No mundo, 40% dos oceanos estão sendo degradados diretamente por atividades humanas. Responsáveis pelo ciclo do carbono e do nitrogênio, controle do clima, produção de oxigênio, da temperatura, das correntes e das formas de vida no planeta, os oceanos têm um papel importante na economia. Representam cerca de 3 trilhões de dólares da economia global por ano equivalente a 5% do Produto Interno Bruto.
No Brasil, as regiões Norte e Nordeste podem perder até 40% da água disponível para uso até 2040 com prejuízo no abastecimento de cidades, na geração de energia hidrelétrica e na agricultura, além de riscos para a saúde, como aponta o estudo “Impacto das Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos do Brasil”, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O Brasil não só abriga a maior floresta tropical do mundo, situada na Amazônia Legal, como também os dois maiores aquíferos. O primeiro, situado na Região Norte — Alter do Chão —, com capacidade de 162 mil 520km³, ou seja, capaz de fornecer água à população mundial por 250 anos. Os dados são da Universidade Federal do Pará.
O segundo é o aquífero Guarani, no Centro-Oeste, que se estende pelo Sul e Sudeste do país e abrange parte da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. Com 39 mil km³, chegou a ser considerado o maior aquífero do planeta. O docente do Instituto Oceanográfico da USP, Alexander Turra, coordenador da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, fala sobre as estratégias a serem tomadas a curto, médio e longo prazos.