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Programa 5: Mariza - Letras

Acima, a chamada para o Programa 5.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



1) Chuva



     Autor: Jorge Fernando



 



As coisas vulgares que há na vida



Não deixam saudades



Só as lembranças que doem



Ou fazem sorrir



 



Há gente que fica na história



Da história da gente



E outras de quem nem o nome



Lembramos ouvir



 



São emoções que dão vida



À saudade que trago



Aquelas que tive contigo



E acabei por perder



 



Há dias que marcam a alma



E a vida da gente



E aquele em que tu me deixaste



Não posso esquecer



 



A chuva molhava-me o rosto



Gelado e cansado



As ruas que a cidade tinha



Já eu percorrera



 



Ai, meu choro de moça perdida



Gritava à cidade



Que o fogo do amor sob a chuva



Há instantes morrera



 



A chuva ouviu e calou



Meu segredo à cidade



E eis que ela bate no vidro



Trazendo a saudade



 



2) Ó gente da minha terra



     Autores: Amália Rodrigues / Tiago Machado



                          



É meu e vosso este fado



Destino que nos amarra



Por mais que seja negado



Às cordas de uma guitarra



 



Sempre que se ouve um gemido



Numa guitarra a cantar



Fica-se logo perdido



Com vontade de chorar



 



Ó gente da minha terra



Agora é que eu percebi



Esta tristeza que trago



Foi de vós que a recebi



 



E pareceria ternura



Se eu me deixasse embalar



Era maior a amargura



Menos triste o meu cantar



 



Ó gente da minha terra



Agora é que eu percebi



Esta tristeza que trago



Foi de vós que a recebi



 



3) Cavaleiro monge



     Autores: Mário Pacheco / Fernando Pessoa



 



Do vale à montanha



Da montanha ao monte



Cavalo de sombra



Cavaleiro monge



Por casas, por prados



Por quinta e por fonte



Caminhais aliados



 



Do vale à montanha



Da montanha ao monte



Cavalo de sombra



Cavaleiro monge



Por penhascos pretos



Atrás e defronte



Caminhais secretos



 



Do vale à montanha



Da montanha ao monte



Cavalo de sombra



Cavaleiro monge



Por prados desertos



Sem ter horizontes



Caminhais libertos



 



Do vale à montanha



Da montanha ao monte



Cavalo de sombra



Cavaleiro monge



Por ínvios caminhos



Por rios sem ponte



Caminhais sozinhos



 



Do vale à montanha



Da montanha ao monte



Cavalo de sombra



Cavaleiro monge



Por quanto é sem fim



Sem ninguém que o conte



Caminhais em mim.



 



4) Vielas de Alfama



     Autores: Artur Ribeiro / Max



 



Horas mortas, noite escura



Uma guitarra a trinar



Uma mulher a cantar



O seu fado de amargura



 



E através da vidraça



Enegrecida e quebrada



A sua voz magoada



Entristece quem lá passa



 



Vielas de Alfama



Ruas de Lisboa antiga



Não há fado que não diga



Coisas do vosso passado



 



Vielas de Alfama



Beijadas pelo luar



Quem me dera lá morar



Pra viver junto do fado



 



A lua às vezes desperta



E apanha desprevenidas



Duas bocas muito unidas



Numa porta entreaberta



 



Então a lua corada



Ciente da sua culpa



Como quem pede desculpa



Esconde-se envergonhada



 



5) Há uma música do povo



     Autores: Mário Pacheco / Fernando Pessoa



 



Há uma música do povo,



Nem sei dizer se é um fado



Que ouvindo-a, há um ritmo novo



No ser que tenho guardado...



 



Ouvindo-a sou quem seria



Se desejar fosse ser...



É uma simples melodia



Das que se aprendem a viver...



 



E ouço-a embalado e sozinho...



É isso mesmo que eu quis ...



Perdi a fé e o caminho...



Quem não fui é que é feliz.



 



Mas é tão consoladora



A vaga e triste canção ...



Que a minha alma já não chora



Nem eu tenho coração ...



 



Sou uma emoção estrangeira,



Um erro de sonho ido...



Canto de qualquer maneira



E acabo com um sentido!



 



 



6) Meu fado meu



     Autor: Paulo de Carvalho



 



Trago um fado no meu canto



Canto a noite até ser dia



Do meu povo trago pranto



No meu canto a Mouraria



 



Tenho saudades de mim



Do meu amor, mais amado



Eu canto um país sem fim



O mar, a terra, o meu fado



Meu fado, meu fado, meu fado, meu fado



 



De mim só me falto eu



Senhora da minha vida



Do sonho, digo que é meu



E dou por mim já nascida



 



Trago um fado no meu canto



Na minh'alma vem guardado



Vem por dentro do meu espanto



A procura do meu fado



Meu fado, meu fado, meu fado, meu fado



 



7) Já me deixou



     Autores: Artur Ribeiro / Max



 



A saudade andou comigo



E através do som da minha voz



No seu fado mais antigo



Fez mil versos a falar de nós



Troçou de mim à vontade



Sem ouvir sequer os meus lamentos



E por capricho ou maldade



Correu comigo a cidade



Até há poucos momentos



 



Já me deixou



Foi-se logo embora



A saudade a quem chamei maldita



Já nos meus olhos não chora



Já nos meus sonhos não grita



Já me deixou



Foi-se logo embora



Minha tristeza chegou ao fim



Já me deixou mesmo agora



Saiu pela porta fora



Ao ver-te voltar pra mim



 



Nem sempre a saudade é triste



Nem sempre a saudade é pranto e dor



Se em paga saudade existe



A saudade não dói tanto amor



Mas enquanto tu não vinhas



Foi tão grande o sofrimento meu



Pois não sabia que tinhas



Em paga às saudades minhas



Mais saudades do que eu



 



8) Pequenas verdades (com Concha Buika)



     Autor: Javier Límon



 



No meu deserto de água



Não havia luz para te olhar



Tive que roubar a lua



Para te poder iluminar



 



Quando iluminei o teu rosto



Fez-se dia no meu corpo



Enquanto eu te iluminava



Minha alma nascia de novo



 



São as pequenas verdades



As que guiam o meu caminho



Verdades brancas



Como a manhã



Que abre a janela do nosso destino



Como o teu olhar



Quando tu me olhas



Como a tua lembrança



Depois de partires



 



É verdade que a sombra do ar me queima



E é verdade que sem ti eu morro de pena



Sim é verdade que sem ti eu morro de pena



 



Misteriosa era a tua boca



Misterioso o meu lamento



Mas não sei se o nosso amor de primavera



Foi mentira ou uma paixão verdadeira



 



Quando a solidão regresse



Cega de amor irei até à morte



As verdades só existem pelos recantos da mente



Essa pequenas verdades que guiaram o meu caminho



 



9) Promete, Jura – Fado Sérgio



     Autores: Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso



 



Estás a pensar em mim, promete, jura



Se sentes como eu o vento a soluçar



As verdades mais certas mais impuras



Que as nossas bocas têm pra contar



 



Se sentes lá fora a chuva estremecida



Como o desenlaçar duma aventura



Que pode ou não ficar por toda a vida



Diz que sentes como eu, promete, jura



 



Se sentes este fogo que te queima



Se sentes o meu corpo em tempestade



Luta por mim amor, arrisca, teima



Abraça este desejo que me invade



 



Se sentes meu amor, o que eu não disse



Além de tudo o mais do que disseste



É que não houve verso que eu sentisse



Aquilo que eu te dei e tu me deste



 



10) É ou não é



      Autor: Alberto Janes



 



É ou não é que o trabalho dignifica



É assim que nos explica o rifão que nunca falha?



 



É ou não é que disto, toda a verdade



Que sabe por dignidade no mundo, ninguém trabalha!



 



É ou não é que o povo nos diz que não



Que o nariz não é feição, seja grande ou delicado?



 



No meio da cara tem por força que se ver



Mesmo a quem o não meter aonde não é chamado!



 



Digam lá se assim ou não é?



Ai, não, não é! Ai, não, não é!



Digam lá se assim ou não é?



Ai, não, não é! Pois é!



 



É ou não é que o velho que à rua saia



Pensa, ao ver a minissaia: este mundo está perdido?



 



Mas se voltasse agora a ser rapazote



Acharia que saiote é muitíssimo comprido?



 



É ou não é, bondosa a humanidade



Todos sabem que a bondade é que faz ganhar o céu?



 



Mas a verdade nua sem salamaleque



Que tive de aprender é que ai de mim se não for eu!



 



Digam lá se assim ou não é?



Ai, não, não é! Ai, não, não é!



Digam lá se assim ou não é?



Ai, não, não é! Pois é!



 



11) Rio de Mágoa



     Autores: Mário Pacheco / Rosa Lobato Faria



 



Na minha voz nocturna nasce um rio



Que não se chama Tejo nem Mondego



Que não leva barqueiro nem navio



Que não corre por entre o arvoredo



 



É um rio todo feito de saudade



Onde nenhuma estrela se reclina



Sem reflectir as luzes da cidade



Vai desaguar no cais a minha sina



 



É um rio que transporta toda a mágoa



Dum coração que parte e se despede



Um rio de tanta dor e tanta água



E eu que o levo ao mar morro de sede



 



É um rio que transporta toda a mágoa



Dum coração que parte e se despede



Um rio de tanta dor e tanta água



E eu que o levo ao mar morro de sede



 



É um rio



Na minha voz nocturna nasce um rio



 



12) Trigueirinha (com Carolina Deslandes, Jorge Palma, Mafalda Veiga,



                             Marisa Liz, Ricardo Ribeiro e Tim)



     Autores: António Vilar da Costa / Jorge Fernando



 



Trigueirinha de olhos verdes



Vê lá se perdes, teu ar trocista



Com tua graça travessa



Perde a cabeça, qualquer fadista



 



Se és cantadeira de brio



Vem cantar ao desafio, mas toma tino



Não dês um passo mal dado



 



Porque o teu xaile traçado



Já traçou o meu destino



 



Bate o fado trigueirinha



Dá-me agora a tua mão



Trigueirinha acerta o passo



No bater do coração



 



Atira-me uma cantiga de amor



Que diga coisas do fado



 



Uma cigana que amava



Como eu gostava, de ser amado



Ao trinar duma guitarra



Se desfez aquela amarra



 



Que nos prendeu



Que triste fado afinal



Tu é que fizeste o mal



E quem o paga sou eu



 



Bate o fado trigueirinha



Dá-me agora a tua mão



Trigueirinha acerta o passo



No bater do coração



 



13) Fado errado (com Maria da Fé)



     Autor: Frederico De Brito



 



Errei porque te amei a vida inteira



Sem nunca deste amor fazer alarde



Agora ando para aqui numa canseira



Pois não encontro a maneira



E para te deixar é tarde



 



Se alguém me perguntar qual foi o erro



Direi que foi amar-te até mais não



Foi culpa deste amor a que me aferro



Com erro atrás de um erro



Há já erros sem perdão



 



Assim que te escolhi, errei!



Por querer viver para ti, errei!



Calquei esta paixão



Esmaguei o coração



E se fiz bem ou não, não sei!



 



Segui o teu olhar, errei!



E quando quis voltar, errei!



Mas reparei depois



Que o erro era dos dois



E foi um erro a mais que eu encontrei



 



Foi erro aquele beijo prolongado



Que fez nascer em nós idéias loucas



(Ai) Foi erro termos sempre a nosso lado



Um desejo acostumado



Ao calor das nossas bocas



 



Foi erro aquelas juras que trocamos



Foi erro ainda maior não as quebrar



Depois de tantos erros que inventamos



Afinal ambos erramos



Pois só Deus não sabe errar



 



14) Primavera



     Autores: Pedro Rodrigues / David Mourão Ferreira



 



Todo o amor que nos prendera



Como se fora de cera



Se quebrava e desfazia



Ai funesta primavera



Quem me dera, quem nos dera



Ter morrido nesse dia



 



E condenaram-me a tanto



Viver comigo meu pranto



Viver, viver e sem ti



Vivendo sem no entanto



Eu me esquecer desse encanto



Que nesse dia perdi



 



Pão duro da solidão



É somente o que nos dão



O que nos dão a comer



Que importa que o coração



Diga que sim ou que não



Se continua a viver



 



Todo o amor que nos prendera



Se quebrara e desfizera



Em pavor se convertia



Ninguém fale em primavera



Quem me dera, quem nos dera



Ter morrido nesse dia


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