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Programa 6: Mísia - Letras

Acima, a chamada para o Programa 6.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



1) Rua dos meus ciúmes



      Autores: Nelson de Barros / Frederico Valério



 



Na rua dos meus ciúmes



Onde eu morei e tu moras



Vi-te passar fora de horas



Com a tua nova paixão



 



De mim não esperes queixumes



Quer seja desta ou daquela



Pois sinto só pena dela



E até lhe dou o meu perdão



Na rua dos meus ciúmes



Deixei o meu coração



 



Saudades são fé perdida



São folhas mortas ao vento



E eu piso sem um lamento



Na tua rua ao passar



E ainda que me custe a vida



Não há-de-ver-me chorar



 



Na rua dos meus ciúmes



Deixei o meu coração



 



2) Liberdades Poéticas 



     Autor: Sérgio Godinho

 



Perdoai-me se este fado é feito com



Liberdades poéticas



Não é tanto pela rima ou pelo som



nem pelas frases assimétricas



É apenas que o ciúme violento



Que tanta vez o fado canta



Neste fado é só um lume



Bem mais lento, bem mais brando



Aveludando a garganta



 



Eu não quis pôr neste fado um novo som



Nem liberdades poéticas



Dá-me a entrada, guitarrista, dá-me o tom



Teu estilo é minha estética



Não porei na minha voz nem um lamento



Se soubessem do meu fado



Meu amor deixou-me um dia



Pus a mão na laje fria



Dei-o assim por enterrado



 



Mas não há fado que não seja feito com



Liberdades poéticas



Sem buscar na diferença o mesmo som



E o sentir numa outra métrica



E por isso ainda que triste esta alegria



Acompanha o meu trinado



Bate as horas ao meio dia



faz-me boa companhia



Pra noite cantar o fado



 



Perdoai-me se este fado é feito com



Liberdades poéticas



Não é tanto pela rima ou pelo som



Nem pelas frases assimétricas



Meu ouvido corre aberto pelas ruas



Que será do meu amado



Não me deixa esta amargura



É mais leve que a loucura



E só por isso canto o fado.



 



3) Nome de rua



     Autores: Alain Oulman / David Mourão Ferreira



 



Deste-me um nome de rua, duma rua de Lisboa



Muito mais nome de rua, do que nome de pessoa



Um desses nomes de rua, que são nomes de canoa



 



Nome de rua quieta



Onde à noite ninguém passa



Onde o ciúme é uma seta



Onde o amor é uma taça



 



Nome de rua secreta



Onde à noite ninguém passa



Onde a sombra dum poeta



De repente nos abraça



 



Com um pouco de amargura, com muito da Madragoa



Com a ruga de quem procura e o riso de quem perdoa



Deste-me um nome de rua, duma rua de Lisboa



 



4) Unicórnio



     Autores: Silvio Rodriguez / Adaptação: Luís Represas



 



Meu Unicórnio azul, aquele que era meu



Pastando eu o deixei e desapareceu.



 



Qualquer informação, decerto eu vou pagar



As flores que deixou não me querem falar.



 



Meu Unicornio azul, ontem desapareceu



Não sei se me deixou, nem sei se se perdeu



 



Mas eu não tenho mais que um Unicornio azul



E se alguém souber dele, que dê uma informação



 



Cem mil ou um milhão eu pagarei



Meu Unicórnio azul Ontem desapareceu



 



O Adeus



Meu Unicórnio e eu, fizemos amizade



Um pouco com Amor, um pouco com Verdade.



 



Com o seu chifre de anil, pescava uma canção



Sabe-la repartir tinha por vocação.



 



Meu Unicórnio azul, perdi o rasto seu



E pode parecer até um "fado" meu.



 



Mas eu não tenho mais que um Unicórnio azul,



Mesmo que fossem dois, eu só queria aquele.



 



Cem mil ou um milhão eu pagarei.



Meu Unicórnio azul



 



Ontem desapareceu... Adeus...



 



5) Dança de mágoas



     Autores: Raul Ferrão / Fernando Pessoa



 



Como inútil taça cheia



Que ninguém ergue da mesa



Transborda de dor alheia



Meu coração sem tristeza



 



Sonhos de mágoa figura



Só para ter que sentir



E assim não tem a amargura



Que se temeu a fingir



 



Ficção num palco sem tábuas



Vestida de papel seda



Mima uma dança de mágoas



Para que nada suceda



 



6) Nenhuma estrela caiu



     Autores: Franklin Rodrigues / José Saramago



 



Janelas que me separam



Do vento frio da tarde



Num recanto de silêncio



Onde os gestos do pensar



São as traves duma ponte



Que não paro de lançar



 



Venha a noite e o seu recado



Sua negra natureza



Talvez a lua não falte



Ou venha a chuva de estrelas



Basta que o sono desperte



O sonho que deixa vê-las



 



Abro as janelas por fim



E o frio vento se esquece



Nenhuma estrela caiu



Nem a lua me ajudou



Mas a ruiva madrugada



Por trás da ponte aparece





7) Ainda que – Mísia



     Autores: Amélia Muge / Carlos Drummond de Andrade



 



Ainda que mal pergunte,



Ainda que mal respondas;



Ainda que mal te entenda,



Ainda que mal repitas;



 



Ainda que mal insista,



Ainda que mal desculpes;



Ainda que mal me exprima,



Ainda que mal me julgues;



 



Ainda que mal me mostre,



Ainda que mal me vejas;



Ainda que mal te encare,



Ainda que mal te furtes;



 



Ainda que mal te siga,



Ainda que mal te voltes;



Ainda que mal te ame,



Ainda que mal o saibas;



 



Ainda que mal te agarre,



Ainda que mal te mates;



Ainda assim te pergunto



E me queimando em teu seio,



Me salvo e me dano: amor



 



8) Que Fazes Aí, Lisboa



        Autores: Mário Gonçalves / Arlindo de Carvalho



 



Que fazes aí, Lisboa,



De olhos fincados no rio?



Os olhos não se levantam



Para prender um navio?



Que fazes aí, Lisboa,



De olhos fincados no rio?



 



O barco que ontem partiu



Partiu e não volta mais!



Chora lágrimas de pedra



Em cada esquina do cais!



O barco que ontem partiu,



Partiu e não volta mais!



 



Lisboa, velha Lisboa,



Mãe pobre à beira do rio!



Seja o xaile dos meus ombros



Agasalho do teu frio!



Lisboa, velha Lisboa,



Mãe pobre à beira do rio!



 



9) Fado das violetas



       Autores: Augusto Hilário / Florbela Espanca



 



Perguntei ás violetas



Se não tinham coração



Se o tinham, porque escondidas



Na folhagem sempre estão



 



Ai as almas dos poetas



Não as entende ninguém



São almas de violetas



Que são poetas também



 



Andam perdidas na vida



Como as estrelas no ar



Sentem o vento sofrer



Ouvem as rosas chorar



 



E eu que arrasto amarguras



Que nunca arrastou ninguém



Tenho alma para sentir



A dor dos poetas também



 



Bendita seja a desgraça



Bendita a fatalidade



Benditos sejam teus olhos



Onde anda a minha saudade



 



10) Fado do ciúme



       Autores: Amadeu do Vale/ Frederico Valério



 



Se não esqueceste



O amor que me dedicaste,



E o que escreveste



Nas cartas que me mandaste,



Esquece o passado



E volta para meu lado,



Porque já estás perdoado



De tudo o que me chamaste.



 



Volta meu querido,



Mas volta como disseste,



Arrependido



De tudo o que me fizeste,



Haja o que houver



Já basta p'ra teu castigo



Essa mulher



Que andava agora contigo.



 



Se é contrafeito



Não voltes, toma cautela



Porque eu aceito



Que vivas antes com ela



Pois podes crer



Que antes prefiro morrer



Do que contigo viver



Sabendo que gostas dela.



 



Só o que eu te peço



É uma recordação,



Se é que mereço



Um pouco de compaixão,



Deixa ficar



O teu retrato comigo,



P'ra eu julgar



Que ainda vivo contigo.



 



11) Só nós dois (Participação Especial: Tigerman)



         Autor: Joaquim Pimentel



 



Só nós dois é que sabemos



Quanto nos queremos bem 



Só nós dois é que sabemos 



Só nós dois e mais ninguém 



Só nós dois avaliamos 



Este amor forte e profundo 



Quando o amor acontece 



Não pede licença ao mundo 



 



Anda, Abraça-me, Beija-me 



Encosta o teu peito ao meu 



Esquece o que vai na rua 



Eu serei tua, tu serás meu 



Que falem não nos interessa 



O mundo não nos importa 



O nosso mundo começa 



Cá dentro da nossa porta 



 



Só nós dois compreendemos 



O calor dos nossos beijos 



Só nós dois é que sofremos 



As torturas dos desejos 



Vamos viver o presente 



Tal qual a vida nos dá 



O que reserva o futuro 



Só Deus sabe o que será 



 



12) Cha Cha Cha em Lisboa (Participação Especial: Melech Mechaya)



        Autores: Ferrer Trindade / Artur Ribeiro



 



O cha cha cha em Lisboa virou fadista



Passou na Madragoa, fez-se bairrista



Andou nas ruas pela Moirama



E fez das suas nos becos de Alfama



Depois pegou numa guitarra 



E até cantou o Menor numa barra



 



Andou todo emproado pelos salões



Depois foi ao mercado ver a Rosinha dos limões



E agora vai-se embora e até chora para ficar por cá



Coitado, já deu em fado não quer ser cha cha cha



 



O cha cha cha em Lisboa virou fadista



Passou na Madragoa, fez-se bairrista



Andou nas ruas pela Moirama



E fez das suas nos becos de Alfama



Depois pegou numa guitarra 



E até cantou o Menor numa barra



 



Andou todo emproado pelos salões



Depois foi ao mercado ver a Rosinha dos limões



E agora vai-se embora e até chora para ficar por cá



Coitado, já deu em fado não quer ser cha cha cha


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