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Unesp FM ao vivo

Programa 14: O Fado Brasileiro - Letras

Acima, a chamada para o Programa 14.



 



Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza



 



 



1) Os argonautas – Caetano Veloso + Maria Teresa



            Autor: Caetano Veloso



 



O Barco!



Meu coração não aguenta



Tanta tormenta, alegria



Meu coração não contenta



O dia, o marco, meu coração



O porto, não!...



 



Navegar é preciso



Viver não é preciso...(2x)



 



O Barco!



Noite no teu, tão bonito



Sorriso solto perdido



Horizonte, madrugada



O riso, o arco da madrugada



O porto, nada!...



 



Navegar é preciso



Viver não é preciso (2x)



 



O Barco!



O automóvel brilhante



O trilho solto, o barulho



Do meu dente em tua veia



O sangue, o charco, barulho lento



O porto, silêncio!...



 



Navegar é preciso



Viver não é preciso...(6x)



 



2) Os infernautas – Língua de trapo



            Autores: Carlos Melo / Laert Sarrumor



 



Ó, senhor deus da internet,



Diz quem são esses zumbis



Navegando por aí



Feito uns marionetes



 



Não é coisa nada bela



Ó deus dos conectados,



Bilhões de pobres coitados



Olhando para uma tela



 



Clica,clica,clica, clica



Curte, parte compartilha



Clica,clica,clica, clica



Tudo se digitaliza



 



Escravos do celular



Hordas e hordas a digitar



Escravos do celular



Horas e horas a digitar



 



É uma estranha escravidão



Que desvaloriza o homem



Até na hora que comem



Eles clicam a refeição



 



Porque é preciso postar



Mostrar o que se fez



Até no Canal de Suez



Partilhar, compartilhar



 



Clica, clica, clica, clica



Curte, parte compartilha



Clica, clica, clica, clica



 



Tudo se digitaliza



Escravos do smartphone



Seja da Apple, seja da Sony (2x)



 



No Egito era Ramsés



Quem mandava e desmandava



Em Roma, César falava



Se curvavam as galés



 



Hitler dominou a terra



Detonou os Rosenberg



Mas o Mark Zuckerberg



Esse, sim, ganhou a guerra



 



Navegar é um vicio



Viver já não consigo



Digitar é um vicio



Viver já não consigo



Celular é um vicio



Viver não é possível



 



3) Fado Tropical – Chico Buarque e Carlos do Carmo



           Autores: Chico Buarque / Ruy Guerra



 



Oh, musa do meu fado,



Oh, minha mãe gentil,



Te deixo consternado



No primeiro abril.



 



Mas não sê tão ingrata!



Não esquece quem te amou



E em tua densa mata



Se perdeu e se encontrou.



Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:



Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!



 



“Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora.”



 



Com avencas na caatinga,



Alecrins no canavial,



Licores na moringa:



Um vinho tropical.



E a linda mulata



Com rendas do alentejo



De quem numa bravata



Arrebata um beijo...



Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:



Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!



 



“Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto,



De tal maneira que, depois de feito, desencontrado, eu mesmo me contesto.



 



Se trago as mãos distantes do meu peito é que há distância entre intenção e gesto



E se o meu coração nas mãos estreito, me assombra a súbita impressão de incesto.



 



Quando me encontro no calor da luta ostento a aguda empunhadora à proa,



Mas meu peito se desabotoa. E se a sentença se anuncia bruta mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa.”



 



Guitarras e sanfonas,



Jasmins, coqueiros, fontes,



Sardinhas, mandioca



Num suave azulejo



E o rio Amazonas



Que corre Trás-os-Montes



E numa pororoca



Deságua no Tejo...



 



Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:



Ainda vai tornar-se um império colonial!



Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:



Ainda vai tornar-se um império colonial!



 



4) Saudades do Brasil em Portugal – Vinícius de Moraes



           Autores: Homem Cristo / Vinícius de Moraes



 



O sal das minhas lágrimas de amor



Criou o mar que existe entre nós dois



Para nos unir e separar



 



Pudesse eu te dizer



A dor que dói dentro de mim



Que mói meu coração nesta paixão



Que não tem fim



 



Ausência tão cruel



Saudade tão fatal



Saudades do Brasil em Portugal



 



Meu bem, sempre que ouvires um lamento



Crescer desolador na voz do vento



Sou eu em solidão pensando em ti



Chorando todo o tempo que perdi





5) Minha Lisboa de mim – Zé Trindade e Trinadus



       Autores: Nuno Gomes Dos Santos / Silvestre Fonseca



 



Adormeci já faz tempo



Nos braços de um sentimento



Numa viela escondida



 



Era Lisboa varina



Uma Lisboa menina



Nos meus olhos acendida



 



Era então uma cidade



Onde à noite a liberdade



Tinha o fado por canção



 



Ai minha Lisboa, quem gosta de ti é certo



Que ama o perfume



Tão perto de ti, tão perto



 



De um Tejo que borda com margens de amor este beijo



Que aflora a saudade, que à noite a cidade



Aprende a viver



 



Da alma da gente que é gente que sente esta vida



Lisboa cidade, Lisboa saudade



Da vida a valer



 



Em ti mergulhei os meus dias



Contigo vivi o melhor que há-de haver, Lisboa



Vou amar-te até morrer



 



Eu aconchego os meus passos



Na saudades dos abraços



Que eu troquei com a vida



(...)



Por ti cidade eu aposto



Que esta vida de que gosto



Teve Lisboa à partida



 



6) Fado – Maria Bethânia



         Autores: Roque Ferreira



 



Por quem tu te consomes, coração?



E somes nessas águas de arrebentação



Rolando ao sal dos sonhos, vai arrastando dores



Inaugurando mares com teu pranto de amores



 



Por quem te enclausuras na força das marés



E cantas sem ternura a luz dos cabarés?



 



Por quem tu te desvelas, coração?



E levanta as velas, vais na ventania



Sabendo do naufrágio que o tempo anuncia



Preferes a procela à paz da calmaria



 



Que anjo dissoluto põe tua embarcação



Na fúria dessas águas, longe da viração



 



7) Na companhia de fadistas – Jussara Silveira



          Autores: Miguel Ramos / Tiago Torres da Silva



 



Não é por ter amado o fado antigo



Que eu já posso dizer que sou fadista



Mas por lhe ter amor é que eu te digo



Que o fado fez em mim nova conquista



Não sei o que há no fado margaridas



Que chora ao mesmo tempo que sorri



Descubro neste fado tantas vidas



Que já nem sei dizer quantas vivi



 



Talvez não seja aceite entre os puristas



Talvez pensem que eu não tenho o direito



Mas é na companhia de fadistas



Que eu sinto a vida latejar no peito



 



Sei que não sou do fado por nascença



E só posso ser por condição



Por isso ao começar, peço licença



E assim que terminar, peço perdão



Por isso ao começar, peço licença



Mas só o posso amar de coração



 



8) Tanto mar – Eugénia Melo e Castro & Wagner Tiso



           Autor: Chico Buarque



 



Foi bonita a festa, pá



Fiquei contente



Ainda guardo renitente



um velho cravo para mim



 



Já murcharam tua festa, pá



Mas certamente



Esqueceram uma semente



n'algum canto de jardim



 



Sei que há léguas a nos separar



Tanto mar, tanto mar



Sei, também, como é preciso,



Navegar, navegar



 



Canta primavera, pá



Cá estou carente



Manda novamente



algum cheirinho de alecrim



 



9) Uma Casa Portuguesa – João Gilberto



          Autor: Artur Fonseca / Reinaldo Ferreira e Vasco Sequeira



 



Numa casa portuguesa fica bem



Pão e vinho sobre a mesa



E se à porta humildemente bate alguém,



Senta-se à mesa com a gente



 



Fica bem essa fraqueza, fica bem,



Que o povo nunca a desmente



A alegria da pobreza



Está nesta grande riqueza



De dar, e ficar contente



 



Quatro paredes caiadas,



Um cheirinho a alecrim,



Um cacho de uvas doiradas,



Duas rosas num jardim,



 



Um São José de azulejo



Mais o sol da primavera,



Uma promessa de beijos



Dois braços à minha espera



É uma casa portuguesa, com certeza!



É, com certeza, uma casa portuguesa!



 



No conforto pobrezinho do meu lar,



Há fartura de carinho



A cortina da janela e o luar,



Mais o sol que bate nela



 



Basta pouco, poucochinho pra alegrar



Uma existência singela



É só amor, pão e vinho



E um caldo verde, verdinho



A fumegar na tijela





10) Valeu a pena – Roberta Miranda



          Autor: Mauro Muniz Pereira



 



Com voz serena



perguntaram-me ao ouvido



valeu a pena



vir ao mundo e ter nascido



 



Com lealdade



vou responder, mas primeiro



consultei meu travesseiro



sobre a verdade



 



Tive porém, que lembrar o meu passado



horas boas do meu fado



e as más também



 



Valeu a pena ter vivido o que vivi



valeu a pena ter sofrido o que sofri



valeu a pena ter amado quem amei



ter beijado quem beijei valeu a pena



 



Valeu a pena ter sonhado o que sonhei



valeu a pena ter passado o que passei



valeu a pena conhecer quem conheci



ter sentido o que senti valeu a pena



 



valeu a pena ter cantado o que cantei



ter chorado o que chorei valeu a pena



Valeu a pena ter amado quem amei



ter beijado quem beijei valeu a pena



 



Valeu a pena ter cantado o que cantei



ter chorado o que chorei valeu a pena



 



11) Canoas do Tejo – Fafá de Belém



        Autor: Frederico de Brito



 



Canoa de vela erguida,



Que vens do Cais da Ribeira,



Gaivota que anda perdida,



Sem encontrar companheira.



 



O vento sopra nas fragas,



O sol parece um morango,



E o Tejo baila com as vagas,



A ensaiar um fandango.



 



Canoa, conheces bem,



Quando há norte pela proa,



Quantas docas tem Lisboa,



E as muralhas que ela tem.



 



Canoa, por onde vens?



Se algum barco te abalroa,



Nunca mais voltas ao cais,



Nunca, nunca, nunca mais.



 



Canoa, de vela panda,



Que vens da boca da barra,



E trazes na aragem branda,



Gemidos de uma guitarra.



 



Teu arrais prendeu a vela,



E se adormeceu, deixá-lo,



Agora, muita cautela,



Não vá o mar acordá-lo.



 



Canoa, conheces bem,



Quando há norte pela proa,



Quantas docas tem Lisboa,



E as muralhas que ela tem.



 



Canoa, por onde vens ?



Se algum barco te abalroa,



Nunca mais voltas ao cais,



Nunca, nunca, nunca mais.



 



12) Lisboa menina e moça – Martinho da Vila



         Autores: Ary Dos Santos / Fernando Tordo / Paulo Carvalho



 



No castelo, ponho um cotovelo



Em Alfama, descanso o olhar



E assim desfaz-se o novelo



De azul e mar



 



À Ribeira encosto a cabeça



A almofada, na cama do Tejo



Com lençóis bordados à pressa



Na cambraia de um beijo



 



Lisboa menina e moça, menina



Da luz que meus olhos veem tão pura



Teus seios são as colinas, varina



Pregão que me traz à porta, ternura



 



Cidade a ponto luz bordada



Toalha à beira mar estendida



Lisboa menina e moça, amada



Cidade mulher da minha vida



 



No terreiro eu passo por ti



Mas da Graça eu vejo-te nua



Quando um pombo te olha, sorri



És mulher da rua



 



E no bairro mais alto do sonho



Ponho o fado que soube inventar



Aguardente de vida e medronho



Que me faz cantar



 



Lisboa no meu amor, deitada



Cidade por minhas mãos despida



Lisboa menina e moça, amada



Cidade mulher da minha vida



 



13) Barco Negro – Ney Matogrosso



      Autores: Caco Velho & Piratini / David Mourão Ferreira



 



De manhã, que medo, que me achasses feia!



Acordei, tremendo, deitada n'areia



Mas logo os teus olhos disseram que não,



E o sol penetrou no meu coração.[Bis]



 



Vi depois, numa rocha, uma cruz,



E o teu barco negro dançava na luz



Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas



Dizem as velhas da praia, que não voltas:



 



São loucas! São loucas!



 



Eu sei, meu amor,



Que nem chegaste a partir,



Pois tudo, em meu redor,



Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]



 



No vento que lança areia nos vidros;



Na água que canta, no fogo mortiço;



No calor do leito, nos bancos vazios;



Dentro do meu peito, estás sempre comigo.


Áudio