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Programa 2: Fado - Introdução II - Letras

publicado em 06/12/2018

Acima, a chamada para o Programa 2.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

1) Fado Hilário (A minha capa velhinha) – Luiz Góes

          Autor: Augusto Hilário

 

A minha capa velhinha

É da cor da noite escura,

A minha capa velhinha

É da cor da noite escura

 

Nela quero amortalhar-me,

Quando for prá sepultura.

Nela quero amortarlhar-me, ai

Quando for p’ra sepultura.

 

Ela há-de contar aos vermes, ai

Já que eu não posso falar

Ela há-de contar aos vermes, ai

Já que eu não posso falar

Segredos luarizados, ai

Da minh’alma a soluçar, ai

 

Eu quero que o meu caixão

Tenha uma forma bizarra,

Eu quero que o meu caixão

Tenha uma forma bizarra,

A forma de um coração,

Ai!… A forma duma guitarra

A forma de um coração,

Ai!… A forma de uma guitarra

 

2) Fado da despedida (Quando passas nos meus olhos) – Café Santa Cruz

            Autores: Luiz Góes

 

Quando passas nos meus olhos

Nunca és o que eu sonhei

Se és vida, nunca vivi

Se és amor, nunca te amei

 

Não podes negar-me um beijo

Senhora da minha vida

Nunca se nega uma esmola

A uma alma perdida

 

3) Elegia – Café Santa Cruz (Manuel Alegre / António Portugal)           

            Autores: Zeca Afonso/ Luís de Andrade

 

O vento desfolha a tarde

Como a dor desfolha o peito

 

Vai-se a tarde, ficam penas

Na roseira do meu peito

 

E se à tarde ficam penas

Senhora por vós eu morro

 

Na roseira do meu peito

Senhora meu bem fermosa

 

4) Um canto de dor e mágoa – Café Santa Cruz           

            Autores: Tánia Rodrigues / Vitorino & Carlos Jesus

 

À noite fiz minha cama

E meu amor fui guardar

Cobri-o todo de estrelas

E os olhos de luar

 

Mas o vento segredava

Um canto de dor e mágoa

A morte o aprisionava

Enchendo meu olhar d’água

 

Meu pranto ergui ao céu

Das lágrimas se fez mar

À noite fiz minha campa

Sem meu amor encontrar

 

5) Rapsódia de Fados – Lucília do Carmo

            Autores: Linhares Barbosa / Popular

 

O triste Fado Menor / Fez-me soltar mil queixumes

Queixumes do meu amor / Que me mata de ciúmes

 

O meu amor desprezou-me / Trocou-me a outra mulher

Mas o que mais me consome / É o que ele anda a dizer

 

Guitarra, toca o Corrido / Quero deixar de ser triste

Fazer de conta que ele / Já para mim não existe

 

Dá mais valor aos teus dias / Deixa-me cantar contigo

No Corrido ou no Dois Tons / Já que ele correu comigo

 

Devagar, guitarra amiga / Que o meu peito já cansou

Esqueceu-me uma cantiga / Que o meu amor me ensinou

 

Mudaste pra Mouraria / Triste fado da Severa

Não posso ter alegria / Meu coração ainda o espera

 

6) Não venhas tarde – Carlos Ramos

             Autores: Aníbal Nazaré / João Nobre

 

Não venhas tarde...

Dizes-me tu, com carinho

Sem nunca fazer alarde do que me pedes baixinho

Não venhas tarde...

Eu peço a Deus, que no fim

Teu coração ainda guarde um pouco de amor por mim

 

Tu sabes bem

Que eu vou pra outra mulher

Que ela me prende também

Que eu só faço o que ela quer

Tu estás sentindo

Que te minto e sou cobarde

Mas sabes dizer, sorrindo

Meu amor, não venhas tarde

 

Não venhas tarde, dizes-me sem azedume

Quando o teu coração arde na fogueira do ciúme

Não venhas tarde, dizes-me tu, da janela

Eu venho sempre mais tarde porque não sei fugir dela

 

Tu sabes bem

Que eu vou pra outra mulher

Que ela me prende também

Que eu só faço o que ela quer

Sem alegria

Eu confesso, tenho medo

Que tu me digas um dia

Meu amor, não venhas cedo

 

Por ironia...

Pois nunca sei onde vais

Que eu chegue cedo algum dia

E seja tarde demais

 

7) O embuçado – João Ferreira Rosa

            Autores: Alcídia Rodrigues / Gabriel Oliveira

 

Noutro tempo a fidalguia

Que deu brado nas toiradas

Andava pela mouraria

Em muito palácio havia

Descantes e guitarradas

 

E a história que eu vou contar

Contou-ma certa velhinha

De uma vez que eu fui cantar

Ao salão de um titular

Lá pró paço da rainha

 

E nesse salão dourado

De ambiente nobre e sério

Para ouvir cantar o fado

Ia sempre um embuçado

Personagem de mistério

 

Mas certa noite houve alguém

Que lhe disse erguendo a fala

Embuçado, nota bem, que hoje não fique ninguém

Embuçado nesta sala!

 

E ante admiração geral

Descobriu-se o embuçado

Era el-rei de Portugal, houve beija-mão real

E depois cantou-se o fado

 

8) O fado chora-se bem – Maria da Fé

             Autores: Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves

 

Moram numa rua escura

A tristeza e a amargura

A angústia e a solidão;

No mesmo quarto fechado

Também lá mora o meu fado

E mora o meu coração

 

Tantos passos temos dado

Nós as três de braço de dado / Eu a tristeza e a amargura

Á noite um fado chorado

Sai deste quarto fechado / E enche esta rua tão escura

 

Somos vizinhos do tédio

Senhor que não tem remédio / Na persistência que tem

Vem p'ró meu quarto fechado

Senta-se ali a meu lado / Não deixa entrar mais ninguém

 

Nesta risonha morada

Não há lugar p'ra mais nada / Não cabe lá mais ninguém

Só lá cabe mais um fado

Que neste quarto fechado / O fado chora-se bem

 

9) Sou Um Fado Desta Idade – Beatriz da Conceição

             Autores: Rogério Bracinha / Ferrer Trindade

 

Fados são belas cantigas, alegres, amigas

Deixem de os cantar tristonhos, dolentes, medonhos

 

Façam os fados activos se os querem ver vivos

Pode o fado ser eterno

Ritmado, alegre, bailado, moderno

 

Sou um fado desta idade

Saltadinho com viveza

Sabe bem não ter saudade, saudade, saudade

Saudade faz tristeza

 

Cá por dentro o sangue ferve

À moleza vou dar fim

Sofre tanto que não serve, não serve, não serve

Não serve pra mim

 

Vamos! Cantem este fado, mexido, marcado

Fado assim é divertido, pulado, batido

 

Tem em si um ar de festa, bem nossa, modesta

Mas que mesmo portuguesa

Perdeu a tristeza, ganhou em beleza

 

10) Isto é Fado – Fernanda Maria

        Autores: Fernando Farinha / José Marques – José Duarte – Alfredo Marceneiro – Casimiro Ramos – Joaquim Campos

 

Um fidalgo dos antigos

Veio há dias cá jantar

Trouxe consigo uns amigos

E pediu-me pra cantar

 

Depois da luz apagada

Fiz sinal ao guitarrista

E de forma afadistada

Até alta madrugada

Mostrei-lhe o que é ser fadista

 

Cantei também o Corrido

Que o fidalgo destemido

Ao ver-me cantar assim

Tirou a velha samarra

Depois pegou na guitarra

E quis cantar para mim

 

À modesta parede se encostou

E num sentir que a todos comoveu

A sua voz cansada me contou

Belezas dum passado que viveu

 

E foi desde este dia

Que eu fiquei a saber

Que o fado não é só

Canção dum desgraçado

É um simples lamento

Que todos podem ter

Que transformado em verso

Se transforma num fado

 

11) Diz que é fado – Maria de Medeiros

              Autor: Maria de Medeiros

 

Se é fado

Clama a melancolia

E uma saudade tardia

De um carinho desgarrado

 

Diz que é fado

Não me ria que é pecado

Siga a trilha do passado

Deixa o jogo empatado

 

Se é fado

Se é assim não quero fado

Amargo

Tanto amor amordaçado

 

Perdido

No teu destino acanhado

Calado

Num breu denso ancorado

 

Mas se é fado

Vamos lembrar o passado

E esse beijo que foi dado

Que foi dado e não roubado

 

Amigo

Deixa correr o enfado

Ai, do amor abismado

Do nosso destino atado

 

E se é fado

Este também é meu fado

Arfado

No teu peito abraçado

 

Irmão

Teu temor está perdoado

Lavado

Que o perdão também é fado

 

Se é fado

Cai a noite ao nosso lado

Com o mesmo suspiro alado

Que traçou o nosso fado

 

Se é fado

Partam barcos, luzam estrelas

Ergam-se na noite velas

A caminho da manhã

 

Achado

Teu sorriso rompa o mundo

Profundo

Sou o canto que nos une

 

Lembrado

Este amor desencontrado

Amado

Então sim eu sei – é fado

 

12) Maldição – Gisela João

             Autores: Alfredo Marceneiro / Armando Vieira Pinto

 

Que destino ou maldição

Manda em nós, meu coração!

Um do outro assim perdidos

Somos dois gritos calados

Dois fados desencontrados

Dois amantes desunidos

 

Por ti, sofro e vou morrendo

Não te encontro, nem te entendo

Amo e odeio sem razão

Coração, quando te cansas

Das nossas mortas esperanças

Quando paras, coração?

 

Nesta luta, esta agonia

Canto e choro de alegria

Sou feliz e desgraçada

Que sina a tua, meu peito

Que nunca estás satisfeito

Que dás tudo e não tens nada!

 

A gelada solidão

Que tu me dás, coração

Não é vida, nem é morte

É lucidez, desatino

De ler no próprio destino

Sem poder mudar-lhe a sorte

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