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Programa 5: Mariza - Letras

publicado em 22/12/2018

Acima, a chamada para o Programa 5.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

1) Chuva

     Autor: Jorge Fernando

 

As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades

Só as lembranças que doem

Ou fazem sorrir

 

Há gente que fica na história

Da história da gente

E outras de quem nem o nome

Lembramos ouvir

 

São emoções que dão vida

À saudade que trago

Aquelas que tive contigo

E acabei por perder

 

Há dias que marcam a alma

E a vida da gente

E aquele em que tu me deixaste

Não posso esquecer

 

A chuva molhava-me o rosto

Gelado e cansado

As ruas que a cidade tinha

Já eu percorrera

 

Ai, meu choro de moça perdida

Gritava à cidade

Que o fogo do amor sob a chuva

Há instantes morrera

 

A chuva ouviu e calou

Meu segredo à cidade

E eis que ela bate no vidro

Trazendo a saudade

 

2) Ó gente da minha terra

     Autores: Amália Rodrigues / Tiago Machado

                          

É meu e vosso este fado

Destino que nos amarra

Por mais que seja negado

Às cordas de uma guitarra

 

Sempre que se ouve um gemido

Numa guitarra a cantar

Fica-se logo perdido

Com vontade de chorar

 

Ó gente da minha terra

Agora é que eu percebi

Esta tristeza que trago

Foi de vós que a recebi

 

E pareceria ternura

Se eu me deixasse embalar

Era maior a amargura

Menos triste o meu cantar

 

Ó gente da minha terra

Agora é que eu percebi

Esta tristeza que trago

Foi de vós que a recebi

 

3) Cavaleiro monge

     Autores: Mário Pacheco / Fernando Pessoa

 

Do vale à montanha

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra

Cavaleiro monge

Por casas, por prados

Por quinta e por fonte

Caminhais aliados

 

Do vale à montanha

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra

Cavaleiro monge

Por penhascos pretos

Atrás e defronte

Caminhais secretos

 

Do vale à montanha

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra

Cavaleiro monge

Por prados desertos

Sem ter horizontes

Caminhais libertos

 

Do vale à montanha

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra

Cavaleiro monge

Por ínvios caminhos

Por rios sem ponte

Caminhais sozinhos

 

Do vale à montanha

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra

Cavaleiro monge

Por quanto é sem fim

Sem ninguém que o conte

Caminhais em mim.

 

4) Vielas de Alfama

     Autores: Artur Ribeiro / Max

 

Horas mortas, noite escura

Uma guitarra a trinar

Uma mulher a cantar

O seu fado de amargura

 

E através da vidraça

Enegrecida e quebrada

A sua voz magoada

Entristece quem lá passa

 

Vielas de Alfama

Ruas de Lisboa antiga

Não há fado que não diga

Coisas do vosso passado

 

Vielas de Alfama

Beijadas pelo luar

Quem me dera lá morar

Pra viver junto do fado

 

A lua às vezes desperta

E apanha desprevenidas

Duas bocas muito unidas

Numa porta entreaberta

 

Então a lua corada

Ciente da sua culpa

Como quem pede desculpa

Esconde-se envergonhada

 

5) Há uma música do povo

     Autores: Mário Pacheco / Fernando Pessoa

 

Há uma música do povo,

Nem sei dizer se é um fado

Que ouvindo-a, há um ritmo novo

No ser que tenho guardado...

 

Ouvindo-a sou quem seria

Se desejar fosse ser...

É uma simples melodia

Das que se aprendem a viver...

 

E ouço-a embalado e sozinho...

É isso mesmo que eu quis ...

Perdi a fé e o caminho...

Quem não fui é que é feliz.

 

Mas é tão consoladora

A vaga e triste canção ...

Que a minha alma já não chora

Nem eu tenho coração ...

 

Sou uma emoção estrangeira,

Um erro de sonho ido...

Canto de qualquer maneira

E acabo com um sentido!

 

 

6) Meu fado meu

     Autor: Paulo de Carvalho

 

Trago um fado no meu canto

Canto a noite até ser dia

Do meu povo trago pranto

No meu canto a Mouraria

 

Tenho saudades de mim

Do meu amor, mais amado

Eu canto um país sem fim

O mar, a terra, o meu fado

Meu fado, meu fado, meu fado, meu fado

 

De mim só me falto eu

Senhora da minha vida

Do sonho, digo que é meu

E dou por mim já nascida

 

Trago um fado no meu canto

Na minh'alma vem guardado

Vem por dentro do meu espanto

A procura do meu fado

Meu fado, meu fado, meu fado, meu fado

 

7) Já me deixou

     Autores: Artur Ribeiro / Max

 

A saudade andou comigo

E através do som da minha voz

No seu fado mais antigo

Fez mil versos a falar de nós

Troçou de mim à vontade

Sem ouvir sequer os meus lamentos

E por capricho ou maldade

Correu comigo a cidade

Até há poucos momentos

 

Já me deixou

Foi-se logo embora

A saudade a quem chamei maldita

Já nos meus olhos não chora

Já nos meus sonhos não grita

Já me deixou

Foi-se logo embora

Minha tristeza chegou ao fim

Já me deixou mesmo agora

Saiu pela porta fora

Ao ver-te voltar pra mim

 

Nem sempre a saudade é triste

Nem sempre a saudade é pranto e dor

Se em paga saudade existe

A saudade não dói tanto amor

Mas enquanto tu não vinhas

Foi tão grande o sofrimento meu

Pois não sabia que tinhas

Em paga às saudades minhas

Mais saudades do que eu

 

8) Pequenas verdades (com Concha Buika)

     Autor: Javier Límon

 

No meu deserto de água

Não havia luz para te olhar

Tive que roubar a lua

Para te poder iluminar

 

Quando iluminei o teu rosto

Fez-se dia no meu corpo

Enquanto eu te iluminava

Minha alma nascia de novo

 

São as pequenas verdades

As que guiam o meu caminho

Verdades brancas

Como a manhã

Que abre a janela do nosso destino

Como o teu olhar

Quando tu me olhas

Como a tua lembrança

Depois de partires

 

É verdade que a sombra do ar me queima

E é verdade que sem ti eu morro de pena

Sim é verdade que sem ti eu morro de pena

 

Misteriosa era a tua boca

Misterioso o meu lamento

Mas não sei se o nosso amor de primavera

Foi mentira ou uma paixão verdadeira

 

Quando a solidão regresse

Cega de amor irei até à morte

As verdades só existem pelos recantos da mente

Essa pequenas verdades que guiaram o meu caminho

 

9) Promete, Jura – Fado Sérgio

     Autores: Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso

 

Estás a pensar em mim, promete, jura

Se sentes como eu o vento a soluçar

As verdades mais certas mais impuras

Que as nossas bocas têm pra contar

 

Se sentes lá fora a chuva estremecida

Como o desenlaçar duma aventura

Que pode ou não ficar por toda a vida

Diz que sentes como eu, promete, jura

 

Se sentes este fogo que te queima

Se sentes o meu corpo em tempestade

Luta por mim amor, arrisca, teima

Abraça este desejo que me invade

 

Se sentes meu amor, o que eu não disse

Além de tudo o mais do que disseste

É que não houve verso que eu sentisse

Aquilo que eu te dei e tu me deste

 

10) É ou não é

      Autor: Alberto Janes

 

É ou não é que o trabalho dignifica

É assim que nos explica o rifão que nunca falha?

 

É ou não é que disto, toda a verdade

Que sabe por dignidade no mundo, ninguém trabalha!

 

É ou não é que o povo nos diz que não

Que o nariz não é feição, seja grande ou delicado?

 

No meio da cara tem por força que se ver

Mesmo a quem o não meter aonde não é chamado!

 

Digam lá se assim ou não é?

Ai, não, não é! Ai, não, não é!

Digam lá se assim ou não é?

Ai, não, não é! Pois é!

 

É ou não é que o velho que à rua saia

Pensa, ao ver a minissaia: este mundo está perdido?

 

Mas se voltasse agora a ser rapazote

Acharia que saiote é muitíssimo comprido?

 

É ou não é, bondosa a humanidade

Todos sabem que a bondade é que faz ganhar o céu?

 

Mas a verdade nua sem salamaleque

Que tive de aprender é que ai de mim se não for eu!

 

Digam lá se assim ou não é?

Ai, não, não é! Ai, não, não é!

Digam lá se assim ou não é?

Ai, não, não é! Pois é!

 

11) Rio de Mágoa

     Autores: Mário Pacheco / Rosa Lobato Faria

 

Na minha voz nocturna nasce um rio

Que não se chama Tejo nem Mondego

Que não leva barqueiro nem navio

Que não corre por entre o arvoredo

 

É um rio todo feito de saudade

Onde nenhuma estrela se reclina

Sem reflectir as luzes da cidade

Vai desaguar no cais a minha sina

 

É um rio que transporta toda a mágoa

Dum coração que parte e se despede

Um rio de tanta dor e tanta água

E eu que o levo ao mar morro de sede

 

É um rio que transporta toda a mágoa

Dum coração que parte e se despede

Um rio de tanta dor e tanta água

E eu que o levo ao mar morro de sede

 

É um rio

Na minha voz nocturna nasce um rio

 

12) Trigueirinha (com Carolina Deslandes, Jorge Palma, Mafalda Veiga,

                             Marisa Liz, Ricardo Ribeiro e Tim)

     Autores: António Vilar da Costa / Jorge Fernando

 

Trigueirinha de olhos verdes

Vê lá se perdes, teu ar trocista

Com tua graça travessa

Perde a cabeça, qualquer fadista

 

Se és cantadeira de brio

Vem cantar ao desafio, mas toma tino

Não dês um passo mal dado

 

Porque o teu xaile traçado

Já traçou o meu destino

 

Bate o fado trigueirinha

Dá-me agora a tua mão

Trigueirinha acerta o passo

No bater do coração

 

Atira-me uma cantiga de amor

Que diga coisas do fado

 

Uma cigana que amava

Como eu gostava, de ser amado

Ao trinar duma guitarra

Se desfez aquela amarra

 

Que nos prendeu

Que triste fado afinal

Tu é que fizeste o mal

E quem o paga sou eu

 

Bate o fado trigueirinha

Dá-me agora a tua mão

Trigueirinha acerta o passo

No bater do coração

 

13) Fado errado (com Maria da Fé)

     Autor: Frederico De Brito

 

Errei porque te amei a vida inteira

Sem nunca deste amor fazer alarde

Agora ando para aqui numa canseira

Pois não encontro a maneira

E para te deixar é tarde

 

Se alguém me perguntar qual foi o erro

Direi que foi amar-te até mais não

Foi culpa deste amor a que me aferro

Com erro atrás de um erro

Há já erros sem perdão

 

Assim que te escolhi, errei!

Por querer viver para ti, errei!

Calquei esta paixão

Esmaguei o coração

E se fiz bem ou não, não sei!

 

Segui o teu olhar, errei!

E quando quis voltar, errei!

Mas reparei depois

Que o erro era dos dois

E foi um erro a mais que eu encontrei

 

Foi erro aquele beijo prolongado

Que fez nascer em nós idéias loucas

(Ai) Foi erro termos sempre a nosso lado

Um desejo acostumado

Ao calor das nossas bocas

 

Foi erro aquelas juras que trocamos

Foi erro ainda maior não as quebrar

Depois de tantos erros que inventamos

Afinal ambos erramos

Pois só Deus não sabe errar

 

14) Primavera

     Autores: Pedro Rodrigues / David Mourão Ferreira

 

Todo o amor que nos prendera

Como se fora de cera

Se quebrava e desfazia

Ai funesta primavera

Quem me dera, quem nos dera

Ter morrido nesse dia

 

E condenaram-me a tanto

Viver comigo meu pranto

Viver, viver e sem ti

Vivendo sem no entanto

Eu me esquecer desse encanto

Que nesse dia perdi

 

Pão duro da solidão

É somente o que nos dão

O que nos dão a comer

Que importa que o coração

Diga que sim ou que não

Se continua a viver

 

Todo o amor que nos prendera

Se quebrara e desfizera

Em pavor se convertia

Ninguém fale em primavera

Quem me dera, quem nos dera

Ter morrido nesse dia

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