Programa 6: Mísia - Letras
publicado em 22/12/2018
Acima, a chamada para o Programa 6.
Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza
1) Rua dos meus ciúmes
Autores: Nelson de Barros / Frederico Valério
Na rua dos meus ciúmes
Onde eu morei e tu moras
Vi-te passar fora de horas
Com a tua nova paixão
De mim não esperes queixumes
Quer seja desta ou daquela
Pois sinto só pena dela
E até lhe dou o meu perdão
Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração
Saudades são fé perdida
São folhas mortas ao vento
E eu piso sem um lamento
Na tua rua ao passar
E ainda que me custe a vida
Não há-de-ver-me chorar
Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração
2) Liberdades Poéticas
Autor: Sérgio Godinho
Perdoai-me se este fado é feito com
Liberdades poéticas
Não é tanto pela rima ou pelo som
nem pelas frases assimétricas
É apenas que o ciúme violento
Que tanta vez o fado canta
Neste fado é só um lume
Bem mais lento, bem mais brando
Aveludando a garganta
Eu não quis pôr neste fado um novo som
Nem liberdades poéticas
Dá-me a entrada, guitarrista, dá-me o tom
Teu estilo é minha estética
Não porei na minha voz nem um lamento
Se soubessem do meu fado
Meu amor deixou-me um dia
Pus a mão na laje fria
Dei-o assim por enterrado
Mas não há fado que não seja feito com
Liberdades poéticas
Sem buscar na diferença o mesmo som
E o sentir numa outra métrica
E por isso ainda que triste esta alegria
Acompanha o meu trinado
Bate as horas ao meio dia
faz-me boa companhia
Pra noite cantar o fado
Perdoai-me se este fado é feito com
Liberdades poéticas
Não é tanto pela rima ou pelo som
Nem pelas frases assimétricas
Meu ouvido corre aberto pelas ruas
Que será do meu amado
Não me deixa esta amargura
É mais leve que a loucura
E só por isso canto o fado.
3) Nome de rua
Autores: Alain Oulman / David Mourão Ferreira
Deste-me um nome de rua, duma rua de Lisboa
Muito mais nome de rua, do que nome de pessoa
Um desses nomes de rua, que são nomes de canoa
Nome de rua quieta
Onde à noite ninguém passa
Onde o ciúme é uma seta
Onde o amor é uma taça
Nome de rua secreta
Onde à noite ninguém passa
Onde a sombra dum poeta
De repente nos abraça
Com um pouco de amargura, com muito da Madragoa
Com a ruga de quem procura e o riso de quem perdoa
Deste-me um nome de rua, duma rua de Lisboa
4) Unicórnio
Autores: Silvio Rodriguez / Adaptação: Luís Represas
Meu Unicórnio azul, aquele que era meu
Pastando eu o deixei e desapareceu.
Qualquer informação, decerto eu vou pagar
As flores que deixou não me querem falar.
Meu Unicornio azul, ontem desapareceu
Não sei se me deixou, nem sei se se perdeu
Mas eu não tenho mais que um Unicornio azul
E se alguém souber dele, que dê uma informação
Cem mil ou um milhão eu pagarei
Meu Unicórnio azul Ontem desapareceu
O Adeus
Meu Unicórnio e eu, fizemos amizade
Um pouco com Amor, um pouco com Verdade.
Com o seu chifre de anil, pescava uma canção
Sabe-la repartir tinha por vocação.
Meu Unicórnio azul, perdi o rasto seu
E pode parecer até um "fado" meu.
Mas eu não tenho mais que um Unicórnio azul,
Mesmo que fossem dois, eu só queria aquele.
Cem mil ou um milhão eu pagarei.
Meu Unicórnio azul
Ontem desapareceu... Adeus...
5) Dança de mágoas
Autores: Raul Ferrão / Fernando Pessoa
Como inútil taça cheia
Que ninguém ergue da mesa
Transborda de dor alheia
Meu coração sem tristeza
Sonhos de mágoa figura
Só para ter que sentir
E assim não tem a amargura
Que se temeu a fingir
Ficção num palco sem tábuas
Vestida de papel seda
Mima uma dança de mágoas
Para que nada suceda
6) Nenhuma estrela caiu
Autores: Franklin Rodrigues / José Saramago
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
Venha a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono desperte
O sonho que deixa vê-las
Abro as janelas por fim
E o frio vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece
7) Ainda que – Mísia
Autores: Amélia Muge / Carlos Drummond de Andrade
Ainda que mal pergunte,
Ainda que mal respondas;
Ainda que mal te entenda,
Ainda que mal repitas;
Ainda que mal insista,
Ainda que mal desculpes;
Ainda que mal me exprima,
Ainda que mal me julgues;
Ainda que mal me mostre,
Ainda que mal me vejas;
Ainda que mal te encare,
Ainda que mal te furtes;
Ainda que mal te siga,
Ainda que mal te voltes;
Ainda que mal te ame,
Ainda que mal o saibas;
Ainda que mal te agarre,
Ainda que mal te mates;
Ainda assim te pergunto
E me queimando em teu seio,
Me salvo e me dano: amor
8) Que Fazes Aí, Lisboa
Autores: Mário Gonçalves / Arlindo de Carvalho
Que fazes aí, Lisboa,
De olhos fincados no rio?
Os olhos não se levantam
Para prender um navio?
Que fazes aí, Lisboa,
De olhos fincados no rio?
O barco que ontem partiu
Partiu e não volta mais!
Chora lágrimas de pedra
Em cada esquina do cais!
O barco que ontem partiu,
Partiu e não volta mais!
Lisboa, velha Lisboa,
Mãe pobre à beira do rio!
Seja o xaile dos meus ombros
Agasalho do teu frio!
Lisboa, velha Lisboa,
Mãe pobre à beira do rio!
9) Fado das violetas
Autores: Augusto Hilário / Florbela Espanca
Perguntei ás violetas
Se não tinham coração
Se o tinham, porque escondidas
Na folhagem sempre estão
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém
São almas de violetas
Que são poetas também
Andam perdidas na vida
Como as estrelas no ar
Sentem o vento sofrer
Ouvem as rosas chorar
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma para sentir
A dor dos poetas também
Bendita seja a desgraça
Bendita a fatalidade
Benditos sejam teus olhos
Onde anda a minha saudade
10) Fado do ciúme
Autores: Amadeu do Vale/ Frederico Valério
Se não esqueceste
O amor que me dedicaste,
E o que escreveste
Nas cartas que me mandaste,
Esquece o passado
E volta para meu lado,
Porque já estás perdoado
De tudo o que me chamaste.
Volta meu querido,
Mas volta como disseste,
Arrependido
De tudo o que me fizeste,
Haja o que houver
Já basta p'ra teu castigo
Essa mulher
Que andava agora contigo.
Se é contrafeito
Não voltes, toma cautela
Porque eu aceito
Que vivas antes com ela
Pois podes crer
Que antes prefiro morrer
Do que contigo viver
Sabendo que gostas dela.
Só o que eu te peço
É uma recordação,
Se é que mereço
Um pouco de compaixão,
Deixa ficar
O teu retrato comigo,
P'ra eu julgar
Que ainda vivo contigo.
11) Só nós dois (Participação Especial: Tigerman)
Autor: Joaquim Pimentel
Só nós dois é que sabemos
Quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois avaliamos
Este amor forte e profundo
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo
Anda, Abraça-me, Beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Eu serei tua, tu serás meu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta
Só nós dois compreendemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
As torturas dos desejos
Vamos viver o presente
Tal qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será
12) Cha Cha Cha em Lisboa (Participação Especial: Melech Mechaya)
Autores: Ferrer Trindade / Artur Ribeiro
O cha cha cha em Lisboa virou fadista
Passou na Madragoa, fez-se bairrista
Andou nas ruas pela Moirama
E fez das suas nos becos de Alfama
Depois pegou numa guitarra
E até cantou o Menor numa barra
Andou todo emproado pelos salões
Depois foi ao mercado ver a Rosinha dos limões
E agora vai-se embora e até chora para ficar por cá
Coitado, já deu em fado não quer ser cha cha cha
O cha cha cha em Lisboa virou fadista
Passou na Madragoa, fez-se bairrista
Andou nas ruas pela Moirama
E fez das suas nos becos de Alfama
Depois pegou numa guitarra
E até cantou o Menor numa barra
Andou todo emproado pelos salões
Depois foi ao mercado ver a Rosinha dos limões
E agora vai-se embora e até chora para ficar por cá
Coitado, já deu em fado não quer ser cha cha cha