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Programa 7: Ana Moura - Letras

publicado em 06/01/2019

Acima, a chamada para o Programa 7.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

1) Sou do fado, sou fadista

         Autores: Jorge Fernando

 

Sei que a alma se ajeitou

Tomou a voz nas mãos

Rodopiou no peito

E fez-se ouvir no ar

E eu fechei meus olhos

Tristes só por querer

Cantar, cantar

 

E uma voz me canta assim baixinho

E uma voz me encanta assim baixinho

Sou do fado

Sou do fado

Eu sou fadista

 

Sei que o ser se dá assim

Às margens onde o canto

Recolhe em seu regaço

As almas num só fado

E eu prendi-me a voz

Como a guitarra ao seu

Trinado, trinado

 

E uma voz me canta assim baixinho

E uma voz me encanta assim baixinho

Sou do fado

Sou do fado

Eu sou fadista

 

2) Por um dia

        Autor: Jorge Fernando

 

Perguntares como é que eu estou não é quanto baste

Quereres saber a quem me dou não é quanto baste

E dizeres para ti morri é um estranho contraste

Nada mais te liga a mim tu nunca me amaste

 

Telefonas para saber como vai a vida

E mais feres sem querer minha alma ferida

E assim rola a minha dor pássaro ferido

Que não esquece o teu amor estranho e proibido

 

Deixa-me só por um dia

Deixa-me só por um dia

Minha fria companhia

Minha fria companhia

 

Dizes ser tão actual ficarmos amigos

No teu jeito natural de enfrentar os perigos

Sem saberes que tanto em mim ainda arde a chama

Que não perde o seu fulgor que ainda te ama

 

Deixa-me só por um dia

Deixa-me só por um dia

Minha fria companhia

Minha fria companhia

Minha fria companhia


3) O que foi que aconteceu

       Autor: Tozé Brito

 

Aconteceu, eu não estava à tua espera
E tu não me procuravas, nem sabias quem eu era
 

Eu estava ali só porque tinha que estar
E tu chegaste porque tinhas que chegar
 

Olhei para ti, o mundo inteiro parou
Nesse instante a minha vida, a minha vida mudou
 

Tudo era para ser eterno, e tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos? O que foi que aconteceu?
 

Tudo era para ser eterno e tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos, meu amor? O que foi que aconteceu?
 

Aconteceu, chama-lhe sorte ou azar
Eu não estava à tua espera, e tu voltaste a passar
 

Nunca senti bater o meu coração, como senti ao sentir a tua mão
Na tua boca o tempo voltou atrás, E se fui louca, essa loucura, essa loucura foi paz

 

Tudo era para ser eterno, e tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos? O que foi que aconteceu?
 

Tudo era para ser eterno, e tu para sempre meu

Onde foi que nos perdemos, meu amor? O que foi que aconteceu?

 

4) Os búzios

       Autor: Jorge Fernando

                          

Havia a solidão da prece no olhar triste

Como se os seus olhos fossem as portas do pranto

Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto

E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto

 

À espreita está um grande amor mas guarda segredo

Vazio tens o teu coração na ponta do medo

Vê como os búzios caíram virados pra norte

Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte

 

Havia um desespero intenso na sua voz

O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós

A velha agitava o lenço, dobrou-o, deu-lhe 2 nós

E o seu pai de santo falou usando-lhe a voz

 

À espreita está um grande amor mas guarda segredo

Vazio tens o teu coração na ponta do medo

Vê como os búzios caíram virados pra norte

Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte!

 

5) O fado da procura

       Autor: Amélia Muge

 

Mas porque é que a gente

Não se encontra?

No Largo da Bica fui-te procurar

Campo de Cebolas, e eu sem te encontrar

Eu fui mesmo até à Casa do Fado

Mas tu não estavas Em nenhum lado

 

Mas porque é que a gente

Não se encontra?

 

Mas porque é que a gente

Não se encontra?

Já estou sem saber o que hei-de fazer

Se seguir em frente, Ai, Madre de Deus

Se voltar atrás, Ai, Chiados meus

E o rio diz: “- Que tarde infeliz”

 

Mas porque é que a gente

Não se encontra?

 

Mas porque é que a gente

Não se encontra?

Já estou farta disto, farta de verdade

Vou beber a bica, sentar e pensar

Ver se esta saudade, ai, fica ou não fica

 

E talvez sem querer, não querem lá ver

Sem te procurar te veja passar

Sem te procurar te veja passar
 

6) Leva-me aos fados

     Autor: Jorge Fernando

 

Chegaste a horas

Como é costume

Bebe um café

Que eu desabafo o meu queixume

Na minha vida

Nada dá certo

Mais um amor

Que de findar me está tão perto

 

Leva-me aos fados

Onde eu sossego

As desventuras do amor a que me entrego

Leva-me aos fados

Que eu vou perder-me

Nas velhas quadras

Que parecem conhecer-me

 

Dá-me um conselho

Que o teu bom senso

É o aconchego de que há tempos não dispenso

Caí de novo, mas quero erguer-me

Olhar-me ao espelho e tentar reconhecer-me

 

7) De quando em vez

        Autores: Mário Raínho / João Maria dos Anjos

 

De quando em vez lá te entregas

nesse sim, em que te negas

ou nesse não, que me é tanto

Não te pergunto os porquês

deste amar, de quando em vez

ou talvez de vez em quando

 

Quase sempre de fugida

como criança escondida

nosso amor brinca com o fogo

Se queremos dizer adeus

porque dizemos meu Deus

simplesmente um até logo

 

E o enleio continua

à mercê de qualquer lua

que nos comanda os sentidos

E a paixão que não tem siso

deixa-nos sem pré-aviso

de corpo e alma despidos

 

Por teimosia, ou loucura

algemamos a ventura

do amor, em nós, reencarnando

Prefiro, como tu vês

amar-te de quando em vez

ou talvez de vez em quando

 

8) Desfado

       Autor: Pedro da Silva Martins

 

Quer o destino que eu não creia no destino

E o meu fado é nem ter fado nenhum

Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido

Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

 

Ai que tristeza, esta minha alegria

Ai que alegria, esta tão grande tristeza

Esperar que um dia eu não espere mais um dia

Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

 

Ai que saudade

Que eu tenho de ter saudade

Saudades de ter alguém

Que aqui está e não existe

Sentir-me triste

Só por me sentir tão bem

E alegre sentir-me bem

Só por eu andar tão triste

 

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"

E lamentasse não ter mais nenhum lamento

Talvez ouvisse no silêncio que fizesse

Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

 

Ai que desgraça esta sorte que me assiste

Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada

Na incerteza que nada mais certo existe

Além da grande certeza de não estar certa de nada


9) A fadista

      Autores: Pedro Rodrigues / Manuela de Freitas

 

Vestido negro cingido

Cabelo negro comprido

E negro xaile bordado

Subindo à noite a Avenida

Quem passa julga-a perdida

Mulher de vício e pecado

E vai sendo confundida

Insultada e perseguida

Pelo convite costumado

 

Entra no café cantante

Seguida em tom provocante

Pelos que querem comprá-la

Uma guitarra a trinar

Uma sombra devagar

Avança para o meio da sala

Ela começa a cantar

E os que a queriam comprar

Sentam-se à mesa a olhá-la

 

Canto antigo e tão profundo

Que vindo do fim do mundo

É prece, pranto ou pregão

E todos os que a ouviam

À luz das velas pareciam

Devotos em oração

E os que há pouco a ofendiam

De olhos fechado ouviam

Como a pedir-lhe perdão

 

Vestido negro cingido

Cabelo negro comprido

E negro xaile traçado

Cantando pra aquela mesa

Ela dá-lhes a certeza

De já lhes ter perdoado

E em frente dela na mesa

Como em prece a uma deusa

Em silêncio ouve-se o fado

 

10) Fado alado – Ana Moura

        Autor: Pedro Abrunhosa

 

Vou de Lisboa a São Bento, trago o teu mundo por dentro

No lenço que tu me deste

Vou do Algarve ao Nordeste, trago o teu beijo bordado

Sou um comboio de fado

Levo um amor encantado, sou um comboio de gente

 

Sou o chão do Alentejo, de ferro é o meu beijo

Tão quente como a liberdade

E se não trago saudade, é porque vives deitado

Num amor que não está parado

Sou um comboio de fado, sou um comboio de gente

 

Não há amor com mais tamanho, que este amor por ti eu tenho

Voo de pássaro redondo, que não aporta no beiral

Não há amor que mais me leve, que aquele em que se escreve

Ai... lume brando, paz e fogo

E a luz final

 

Desço do Porto ao Rossio, levo o abraço do rio

Douro, amante do Tejo

Nos ecos dum realejo, chora minha guitarra

Trazes-me a paz da cigarra, num desencontro encontrado

Sou um comboio de fado

 

Se for morrer a Coimbra, traz-me da luz a penumbra

Do amor que nunca se fez

Corre-me o sangue de Inês, mostra-me um sonho acordado

Somos um povo alado, um povo que vive no fado

A alma de ser diferente

 

11) Despiu a saudade – Ana Moura

      Autores: António Zambujo / Paulo Abreu de Lima

 

Despiu a saudade depois do jantar

Num prato já frio de tanto esperar

Aquele que bebe nos tascos da vida

Rodadas de amantes de tara perdida

E chega tão cheio de nada pra dar

 

Sacudiu o pó desse amor primeiro

Num canto guardado do seu coração

Aquele retrato parado no tempo

Que morde por fora, magoa por dentro

Num corpo vazio de tanta ilusão

 

Mas de repente como um sol depois da chuva

Surgiu a noite transformada em alvorada

Vai pró espelho, faz-se bonita

Lábios vermelhos, corpo de chita

Vestido na pressa de quem sai já atrasada

Brilho nos olhos, ar de menina

Livre e rainha, de tresloucada

Saltou pra lua, na minha rua na madrugada

 

Trago o coração à flor da boca

E a sina escrita na palma da mão

Foram tantos anos sem imaginar

O dia sonhado da noite mais louca

Nas ruas da vida com ela a dançar

 

Despiu a saudade

Sacudiu o pó


12) Dia de folga – Ana Moura

            Autor: Jorge Cruz

 

Manhã na minha ruela, sol pela janela

O senhor jeitoso dá tréguas ao berbequim

O galo descansa, ri-se a criança

Hoje não há birras, a tudo diz que sim

O casal em guerra do segundo andar

Fez as pazes, está lá fora a namorar

 

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga

É dia de folga!

 

Sem pressa de ar invencível, saia, saltos, rímel

Vou descer à rua, pode o trânsito parar

O guarda desfruta, a fiscal não multa

Passo e o turista, faz por não atrapalhar

Dona Laura hoje vai ler o jornal

Na cozinha está o esposo de avental

 

Refrão

 

Folga de ser-se quem se é

E de fazer tudo porque tem que ser

Folga para ao menos uma vez

A vida ser como nos apetecer

 

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos, faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para a tristeza ir de volta e o fado celebrar

 

Refrão

 

Este é o fado que se empolga

No dia de folga!

No dia de folga!

 

13) Moura Encantada (Moura)

      Autores: Manuela de Freitas / Alfredo Marceneiro
 

É lenda, na Mouraria

Que grande riqueza havia

Por uma moura guardada

Um dia alguém perguntou-me

Se a moura que há no meu nome

É essa moura encantada

 

Não sei, só sei que me dou

E me esqueço de quem sou

Como num sono profundo

E nos sonhos que vou tendo

Eu adivinho e desvendo

Todos os sonhos do mundo

 

A minha voz, de repente

É a voz de toda a gente

De tudo o que a vida tem

Quando a noite chega ao fim

Vou à procura de mim

E não encontro ninguém

Não sei se é lenda ou se não

Se é encanto ou maldição

Que às vezes me pesa tanto

Sei que livre ou condenada

E sem pensar em mais nada

Eu fecho os olhos e canto

 

Serei talvez encantada

E sendo assim tudo e nada

Eu fecho os olhos e canto

 

14) Loucura – Ana Moura

      Autores: Frederico de Brito / Júlio de Sousa

 

Sou do fado

Como eu sei

Vivo um poema cantado

Um fado que eu inventei

A falar não posso dar-me

Mas ponho a alma a cantar

E as almas sabem escutar-me

 

Chorai, chorai

Poetas do meu país

Troncos da mesma raiz

Da vida que nos juntou

E se vocês não estivessem a meu lado

Então não havia fado

Nem fadistas como eu sou

 

Nesta voz tão dolorida

É culpa de todos vós

Poetas da minha vida

É loucura ouço dizer

Mas bendita esta loucura

de cantar e de sofrer

 

Chorai, chorai

Poetas do meu país

Troncos da mesma raíz

Da vida que nos juntou

 

E se vocês não estivessem a meu lado

Então não havia fado

Nem fadistas como eu sou.

 

E se vocês não estivessem a meu lado

Então não havia fado

Nem fadistas como eu sou.

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