Programa 9: Gisela João & Camané - Letras
publicado em 08/01/2019
Acima, a chamada para o Programa 9.
Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza
1) Madrugada sem sono – Gisela João (CD Gisela João 2013)
Autores: Goulart Nogueira / Raul Ferrão
Na solidão a esperar-te
Meu amor fora da lei
Mordi meus lábios sem beijos
Tive ciúmes, chorei
Despedi-me do teu corpo
E por orgulho fugi
Andei dum corpo a outro corpo
Só pra me esquecer de ti
Embriaguei-me, cantei
E busquei estrelas na lama
Naufraguei meu coração
Nas ondas loucas da cama
Ai abraços frios de raiva
Ai beijos de nojo e fome
Ai nomes que murmurei
Com a febre do teu nome
De madrugada sem sono
Sem luz, nem amor, nem lei
Mordi os brancos lençóis
Tive saudades, chorei
2) Vieste do fim do mundo – Gisela João (CD Gisela João 2013)
Autor: João Lóio
Vieste do fim do mundo
num barco vagabundo
Vieste como quem
tinha que vir para contar
histórias e verdades
vontades e carinhos
promessas e mentiras de quem
de porto em porto amar se faz
Vieste de repente
de olhar tão meigo e quente
bebeste a celebrar
a volta tua
tomaste-me em teus braços
em marinheiros laços
tocaste no meu corpo uma canção
que em vil magia me fez tua
Subiste para o quarto
de andar tão mole e farto
de beijos e de rum
a noite ardeu
cobri-me em tatuagens
dissolvi-me em viagens
com pólvora e perdões tomaste
o meu navio que agora é teu
3) Sei de um rio – Camané
Autores: Pedro Homem de Mello / Alain Oulman
Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade
Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio
Sei de um rio
até quando
4) Mais um fado no fado – Camané
Autores: Júlio de Sousa / Carlos da Maia
Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da madrugada
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada
Eu sei que me querem bem
Eu sei que há outros amores
Para bordar no meu peito
Mas eu não vejo ninguém
Porque não quero mais dores
Nem mais batom no meu leito
Nem beijos que não são teus
Nem perfumes duvidosos
Nem carícias perturbantes
E nem infernos nem céus
Nem sol nos dias chuvosos
Porque ainda somos amantes
Mas Deus quer mais sofrimento
Quer mais rugas no meu rosto
E o meu corpo mais quebrado
Mais requintado tormento
Mais velhice, mais desgosto
E mais um fado no fado
5) Meu amigo está longe – Gisela João (CD Gisela João 2013)
Autores: Ary dos Santos / Alain Oulman
Nem um poema, nem um verso, nem um canto
Tudo raso de ausência, tudo liso de espanto
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a distância é tão grande
Nem um som, nem um grito, nem um ai
Tudo calado, todos sem mãe nem pai
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a tristeza é tão grande
Ai esta mágoa, ai este pranto, ai esta dor
Dor do amor sozinho, o amor maior
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a saudade é tão grande
6) Voltaste (CD Gisela João 2013)
Autor: Joaquim Pimentel
Voltaste, ainda bem que voltaste
As saudades que eu sentia não podes avaliar
Voltaste, e à minha vida vazia
Voltou aquela alegria que só tu lhe podes dar
Voltaste, ainda bem que voltaste
Embora saiba que vou sofrer o que já sofri
Cansei, cansei de chorar sozinha
Antes mentiras contigo do que verdades sem ti
Voltaste, que coisa mais singular
Eu quase não sei cantar se tu não estás a meu lado
Voltaste, já não me queixo nem grito
És o verso mais bonito deste meu fado acabado
Voltaste, ainda bem que voltaste
O passado é passado, para que lembrar agora
Voltaste, quero lá saber da vida
Quando dormes a meu lado, a vida dorme lá fora
7) Sopra demais o vento – Camané
Autores: Fernando Pessoa / J.J. Cavalheiro
Sopra demais o vento
Para eu poder descansar
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar
Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida
Sopra um vento excessivo
Tenho medo de pensar
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar
Vento que passa e esquece
Poeira que se ergue e cai
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!
8) Quadras – Camané
Autores: Fernando Pessoa / Jaime Santos
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
9) Senhor extraterrestre – Gisela João (CD Nua – 2016)
Autor: Carlos Paião
Vou contar-vos um história que não me sai da memória
Foi pra mim uma vitória nesta era espacial
Noutro dia estremeci quando abri a porta e vi
Um grandessíssimo OVNI pousado no meu quintal
Fui logo bater à porta, veio uma figura torta
Eu disse: Se não se importa poderia ir-se embora
Tenho esta roupa a secar e ainda se vai sujar
Se essa coisa aí ficar a deitar fumo pra fora
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado
Quis falar, mas disse pi, estava mal sintonizado
Mexeu lá no botãozinho e pôde contar-me, então
Que tinha sido multado por o terem apanhado
Sem carta de condução
Ó, senhor, desculpe lá, não quero passar por má
Pois você onde está não me adianta nem me atrasa
O pior é a vizinha que parece que adivinha
Quando vir que eu estou sozinha com um estranho em minha casa
Mas já que está aí de pé venha tomar um café
Faz-me pena, pois você nem tem cara de ser mau
E eu queria saber também se na terra donde vem
Não conhece lá ninguém que me arranje bacalhau
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado
Quis falar, mas disse pi, estava mal sintonizado
Mexeu lá no botãozinho, disse para me pôr a pau
Pois na terra donde vinha nem há cheiro de sardinha
Quanto mais de bacalhau
Conte agora novidades: É casado? Tem saudades?
Já tem filhos? De que idades? Só um? A quem é que sai?
Tem retratos, com certeza. Mostre lá, ai que riqueza!
Não é mesmo uma beleza? Tão verdinho, sai ao pai
Já está de chaves na mão? Vai voltar pro avião?
Espere, que já ali estão umas sandes pra viagem
E vista também aquela camisinha de flanela
Pra quando abrir a janela não se constipar com a aragem
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado
Quis falar, mas disse pi, estava mal sintonizado
Mexeu lá no botãozinho e pôde-me então dizer
Que quer que eu vá visitá-lo, que acha graça quando eu falo
Ou ao menos pra escrever
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado
Quis falar, mas disse pi, estava mal sintonizado
Mexeu lá no botãozinho só pra dizer: Deus lhe pague
Eu dei-lhe um copo de vinho, e lá foi no seu caminho
Que era um pouco em ziguezague
10) As rosas não falam – Gisela João (CD Nua – 2016)
Autor: Cartola
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
11) Empate dois a dois – Camané
Autores: Carlos Gordo / Alfredo Duarte “Marceneiro”
Joguei-te um beijo, ganhei
Deste-me o dobro depois
Dei-te outro beijo, empatei
Empatámos dois a dois
Nas vastas leis do amor
Onde os beijos fazem lei
Como sou bom jogador
Joguei-te um beijo, ganhei
Ao veres meu rosto erguido
Próprio dos grandes heróis
Pra que eu ficasse vencido
Deste-me o dobro depois
Procurei não ficar mal
Fui nobre, impus-me, lutei
Num arranque colossal
Dei-te outro beijo, empatei
Podes vencer-me, talvez
Que o meu valor não destróis
E agora à primeira vez
Empatámos dois a dois
12) Senhora do Livramento – Camané
Autores: José Luís Gordo / Alfredo Duarte “Marceneiro”
Senhora do Livramento
Livrai-me deste tormento
De a não ver há tantos dias
Partiu zangada comigo
Deixou um retrato antigo
Que me aquece as noites frias
Senhora que o pensamento
Corre veloz como o vento
Rumando estradas ao céu
Fazei crescer os meus dedos
Pra desvendar os segredos
Dum céu que não é só meu
Senhora do céu das dores
Infernos, prantos, amores
A castigar tanto norte
Porque é que partiste um dia
Sofrendo a minha agonia
E não me roubaste a morte
13) Versos esparsos de Florbela – Gisela João (CD “Onde sonho” de Alexandros
Nathanail)
Autores: Florbela Espanca / Alexandros Nathanail
Ó mar cristalino
Quero ouvir-te
Silêncio que me faz chorar de dor
Ando a chamar por ti
Onde estás meu amor
Estendo os meus braços, chamo-te
Grito ao mar a chorar
Ao azul do céu
Uma mágoa, uma mágoa sem fim
Ó mar cristalino
Quero ouvir-te
Silêncio que me faz chorar de dor
Ando a chamar por ti
Onde estás meu amor
Estendo os meus braços, chamo-te
Grito ao mar a chorar
Ao azul do céu
Um engano feliz vale mais
Um engano feliz vale mais