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Programa 14: O Fado Brasileiro - Letras

publicado em 23/03/2019

Acima, a chamada para o Programa 14.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

 

1) Os argonautas – Caetano Veloso + Maria Teresa

            Autor: Caetano Veloso

 

O Barco!

Meu coração não aguenta

Tanta tormenta, alegria

Meu coração não contenta

O dia, o marco, meu coração

O porto, não!...

 

Navegar é preciso

Viver não é preciso...(2x)

 

O Barco!

Noite no teu, tão bonito

Sorriso solto perdido

Horizonte, madrugada

O riso, o arco da madrugada

O porto, nada!...

 

Navegar é preciso

Viver não é preciso (2x)

 

O Barco!

O automóvel brilhante

O trilho solto, o barulho

Do meu dente em tua veia

O sangue, o charco, barulho lento

O porto, silêncio!...

 

Navegar é preciso

Viver não é preciso...(6x)

 

2) Os infernautas – Língua de trapo

            Autores: Carlos Melo / Laert Sarrumor

 

Ó, senhor deus da internet,

Diz quem são esses zumbis

Navegando por aí

Feito uns marionetes

 

Não é coisa nada bela

Ó deus dos conectados,

Bilhões de pobres coitados

Olhando para uma tela

 

Clica,clica,clica, clica

Curte, parte compartilha

Clica,clica,clica, clica

Tudo se digitaliza

 

Escravos do celular

Hordas e hordas a digitar

Escravos do celular

Horas e horas a digitar

 

É uma estranha escravidão

Que desvaloriza o homem

Até na hora que comem

Eles clicam a refeição

 

Porque é preciso postar

Mostrar o que se fez

Até no Canal de Suez

Partilhar, compartilhar

 

Clica, clica, clica, clica

Curte, parte compartilha

Clica, clica, clica, clica

 

Tudo se digitaliza

Escravos do smartphone

Seja da Apple, seja da Sony (2x)

 

No Egito era Ramsés

Quem mandava e desmandava

Em Roma, César falava

Se curvavam as galés

 

Hitler dominou a terra

Detonou os Rosenberg

Mas o Mark Zuckerberg

Esse, sim, ganhou a guerra

 

Navegar é um vicio

Viver já não consigo

Digitar é um vicio

Viver já não consigo

Celular é um vicio

Viver não é possível

 

3) Fado Tropical – Chico Buarque e Carlos do Carmo

           Autores: Chico Buarque / Ruy Guerra

 

Oh, musa do meu fado,

Oh, minha mãe gentil,

Te deixo consternado

No primeiro abril.

 

Mas não sê tão ingrata!

Não esquece quem te amou

E em tua densa mata

Se perdeu e se encontrou.

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

 

“Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora.”

 

Com avencas na caatinga,

Alecrins no canavial,

Licores na moringa:

Um vinho tropical.

E a linda mulata

Com rendas do alentejo

De quem numa bravata

Arrebata um beijo...

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

 

“Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto,

De tal maneira que, depois de feito, desencontrado, eu mesmo me contesto.

 

Se trago as mãos distantes do meu peito é que há distância entre intenção e gesto

E se o meu coração nas mãos estreito, me assombra a súbita impressão de incesto.

 

Quando me encontro no calor da luta ostento a aguda empunhadora à proa,

Mas meu peito se desabotoa. E se a sentença se anuncia bruta mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa.”

 

Guitarras e sanfonas,

Jasmins, coqueiros, fontes,

Sardinhas, mandioca

Num suave azulejo

E o rio Amazonas

Que corre Trás-os-Montes

E numa pororoca

Deságua no Tejo...

 

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:

Ainda vai tornar-se um império colonial!

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:

Ainda vai tornar-se um império colonial!

 

4) Saudades do Brasil em Portugal – Vinícius de Moraes

           Autores: Homem Cristo / Vinícius de Moraes

 

O sal das minhas lágrimas de amor

Criou o mar que existe entre nós dois

Para nos unir e separar

 

Pudesse eu te dizer

A dor que dói dentro de mim

Que mói meu coração nesta paixão

Que não tem fim

 

Ausência tão cruel

Saudade tão fatal

Saudades do Brasil em Portugal

 

Meu bem, sempre que ouvires um lamento

Crescer desolador na voz do vento

Sou eu em solidão pensando em ti

Chorando todo o tempo que perdi


5) Minha Lisboa de mim – Zé Trindade e Trinadus

       Autores: Nuno Gomes Dos Santos / Silvestre Fonseca

 

Adormeci já faz tempo

Nos braços de um sentimento

Numa viela escondida

 

Era Lisboa varina

Uma Lisboa menina

Nos meus olhos acendida

 

Era então uma cidade

Onde à noite a liberdade

Tinha o fado por canção

 

Ai minha Lisboa, quem gosta de ti é certo

Que ama o perfume

Tão perto de ti, tão perto

 

De um Tejo que borda com margens de amor este beijo

Que aflora a saudade, que à noite a cidade

Aprende a viver

 

Da alma da gente que é gente que sente esta vida

Lisboa cidade, Lisboa saudade

Da vida a valer

 

Em ti mergulhei os meus dias

Contigo vivi o melhor que há-de haver, Lisboa

Vou amar-te até morrer

 

Eu aconchego os meus passos

Na saudades dos abraços

Que eu troquei com a vida

(...)

Por ti cidade eu aposto

Que esta vida de que gosto

Teve Lisboa à partida

 

6) Fado – Maria Bethânia

         Autores: Roque Ferreira

 

Por quem tu te consomes, coração?

E somes nessas águas de arrebentação

Rolando ao sal dos sonhos, vai arrastando dores

Inaugurando mares com teu pranto de amores

 

Por quem te enclausuras na força das marés

E cantas sem ternura a luz dos cabarés?

 

Por quem tu te desvelas, coração?

E levanta as velas, vais na ventania

Sabendo do naufrágio que o tempo anuncia

Preferes a procela à paz da calmaria

 

Que anjo dissoluto põe tua embarcação

Na fúria dessas águas, longe da viração

 

7) Na companhia de fadistas – Jussara Silveira

          Autores: Miguel Ramos / Tiago Torres da Silva

 

Não é por ter amado o fado antigo

Que eu já posso dizer que sou fadista

Mas por lhe ter amor é que eu te digo

Que o fado fez em mim nova conquista

Não sei o que há no fado margaridas

Que chora ao mesmo tempo que sorri

Descubro neste fado tantas vidas

Que já nem sei dizer quantas vivi

 

Talvez não seja aceite entre os puristas

Talvez pensem que eu não tenho o direito

Mas é na companhia de fadistas

Que eu sinto a vida latejar no peito

 

Sei que não sou do fado por nascença

E só posso ser por condição

Por isso ao começar, peço licença

E assim que terminar, peço perdão

Por isso ao começar, peço licença

Mas só o posso amar de coração

 

8) Tanto mar – Eugénia Melo e Castro & Wagner Tiso

           Autor: Chico Buarque

 

Foi bonita a festa, pá

Fiquei contente

Ainda guardo renitente

um velho cravo para mim

 

Já murcharam tua festa, pá

Mas certamente

Esqueceram uma semente

n'algum canto de jardim

 

Sei que há léguas a nos separar

Tanto mar, tanto mar

Sei, também, como é preciso,

Navegar, navegar

 

Canta primavera, pá

Cá estou carente

Manda novamente

algum cheirinho de alecrim

 

9) Uma Casa Portuguesa – João Gilberto

          Autor: Artur Fonseca / Reinaldo Ferreira e Vasco Sequeira

 

Numa casa portuguesa fica bem

Pão e vinho sobre a mesa

E se à porta humildemente bate alguém,

Senta-se à mesa com a gente

 

Fica bem essa fraqueza, fica bem,

Que o povo nunca a desmente

A alegria da pobreza

Está nesta grande riqueza

De dar, e ficar contente

 

Quatro paredes caiadas,

Um cheirinho a alecrim,

Um cacho de uvas doiradas,

Duas rosas num jardim,

 

Um São José de azulejo

Mais o sol da primavera,

Uma promessa de beijos

Dois braços à minha espera

É uma casa portuguesa, com certeza!

É, com certeza, uma casa portuguesa!

 

No conforto pobrezinho do meu lar,

Há fartura de carinho

A cortina da janela e o luar,

Mais o sol que bate nela

 

Basta pouco, poucochinho pra alegrar

Uma existência singela

É só amor, pão e vinho

E um caldo verde, verdinho

A fumegar na tijela


10) Valeu a pena – Roberta Miranda

          Autor: Mauro Muniz Pereira

 

Com voz serena

perguntaram-me ao ouvido

valeu a pena

vir ao mundo e ter nascido

 

Com lealdade

vou responder, mas primeiro

consultei meu travesseiro

sobre a verdade

 

Tive porém, que lembrar o meu passado

horas boas do meu fado

e as más também

 

Valeu a pena ter vivido o que vivi

valeu a pena ter sofrido o que sofri

valeu a pena ter amado quem amei

ter beijado quem beijei valeu a pena

 

Valeu a pena ter sonhado o que sonhei

valeu a pena ter passado o que passei

valeu a pena conhecer quem conheci

ter sentido o que senti valeu a pena

 

valeu a pena ter cantado o que cantei

ter chorado o que chorei valeu a pena

Valeu a pena ter amado quem amei

ter beijado quem beijei valeu a pena

 

Valeu a pena ter cantado o que cantei

ter chorado o que chorei valeu a pena

 

11) Canoas do Tejo – Fafá de Belém

        Autor: Frederico de Brito

 

Canoa de vela erguida,

Que vens do Cais da Ribeira,

Gaivota que anda perdida,

Sem encontrar companheira.

 

O vento sopra nas fragas,

O sol parece um morango,

E o Tejo baila com as vagas,

A ensaiar um fandango.

 

Canoa, conheces bem,

Quando há norte pela proa,

Quantas docas tem Lisboa,

E as muralhas que ela tem.

 

Canoa, por onde vens?

Se algum barco te abalroa,

Nunca mais voltas ao cais,

Nunca, nunca, nunca mais.

 

Canoa, de vela panda,

Que vens da boca da barra,

E trazes na aragem branda,

Gemidos de uma guitarra.

 

Teu arrais prendeu a vela,

E se adormeceu, deixá-lo,

Agora, muita cautela,

Não vá o mar acordá-lo.

 

Canoa, conheces bem,

Quando há norte pela proa,

Quantas docas tem Lisboa,

E as muralhas que ela tem.

 

Canoa, por onde vens ?

Se algum barco te abalroa,

Nunca mais voltas ao cais,

Nunca, nunca, nunca mais.

 

12) Lisboa menina e moça – Martinho da Vila

         Autores: Ary Dos Santos / Fernando Tordo / Paulo Carvalho

 

No castelo, ponho um cotovelo

Em Alfama, descanso o olhar

E assim desfaz-se o novelo

De azul e mar

 

À Ribeira encosto a cabeça

A almofada, na cama do Tejo

Com lençóis bordados à pressa

Na cambraia de um beijo

 

Lisboa menina e moça, menina

Da luz que meus olhos veem tão pura

Teus seios são as colinas, varina

Pregão que me traz à porta, ternura

 

Cidade a ponto luz bordada

Toalha à beira mar estendida

Lisboa menina e moça, amada

Cidade mulher da minha vida

 

No terreiro eu passo por ti

Mas da Graça eu vejo-te nua

Quando um pombo te olha, sorri

És mulher da rua

 

E no bairro mais alto do sonho

Ponho o fado que soube inventar

Aguardente de vida e medronho

Que me faz cantar

 

Lisboa no meu amor, deitada

Cidade por minhas mãos despida

Lisboa menina e moça, amada

Cidade mulher da minha vida

 

13) Barco Negro – Ney Matogrosso

      Autores: Caco Velho & Piratini / David Mourão Ferreira

 

De manhã, que medo, que me achasses feia!

Acordei, tremendo, deitada n'areia

Mas logo os teus olhos disseram que não,

E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

 

Vi depois, numa rocha, uma cruz,

E o teu barco negro dançava na luz

Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas

Dizem as velhas da praia, que não voltas:

 

São loucas! São loucas!

 

Eu sei, meu amor,

Que nem chegaste a partir,

Pois tudo, em meu redor,

Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]

 

No vento que lança areia nos vidros;

Na água que canta, no fogo mortiço;

No calor do leito, nos bancos vazios;

Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

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