Programa 3: Pedro Abrunhosa (Letras)
publicado em 16/01/2020
Acima, a chamada para o Programa 3.
1) Lua (Viagens – 1994)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Mais um dia que acaba
e a cidade parece dormir,
da janela vejo a luz que bate no chão
e penso em te possuir.
Noite após noite, há já muito tempo,
saio sem saber para onde vou,
chamo por ti, na sombra das ruas,
mas só a lua sabe quem eu sou.
Lua, lua,
eu quero ver o teu brilhar,
lua, lua, lua,
Eu quero ver o teu sorrir.
Leva-me contigo,
mostra-me onde estás,
é que o pior castigo
é viver assim, sem luz nem paz,
sozinho com o peso do caminho
que se fez para trás...
Lua, eu quero ver o teu brilhar,
no luar, no luar.
Homens de chapéu e cigarros compridos
vagueiam pelas ruas com olhares cheios de nada,
mulheres meio despidas encostadas à parede
fazem-me sinais que finjo não entender.
Loucas são as noites, que passo sem dormir,
loucas são as noites.
Os bares estão fechados já não há onde beber,
este silêncio escuro não me deixa adormecer.
Loucas são as noites.
Refrão
Não há saudade sem regresso, não há noites sem
madrugada,
Ouço ao longe as guitarras, nas quais vou partir,
na névoa construo a minha estrada.
Loucas são as noites, que passo sem dormir,
loucas são as noites.
Loucas são as noites, que passo sem dormir,
loucas são as noites...
2) Se eu fosse um dia o teu olhar (Tempo – 1996)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Frio
O mar
Por entre o corpo
Fraco de lutar
Quente,
O chão
Onde te estendo
Onde te levo a razão.
Longa a noite
E só o sol
Quebra o silêncio,
Madrugada de cristal.
Leve, lento, nu, fiel
E este vento
Que te navega na pele.
Pede-me a paz
Dou-te o mundo
Louco, livre assim sou eu
(Um pouco +...)
Solta-te a voz lá do fundo,
Grita, mostra-me a cor do céu.
Se eu fosse um dia o teu olhar,
E tu as minhas mãos também,
se eu fosse um dia o respirar
E tu perfume de ninguém.
Se eu fosse um dia o teu olhar,
E tu as minhas mãos também,
se eu fosse um dia o respirar
E tu perfume de ninguém.
Sangue,
Ardente,
Fermenta e torna aos dedos de papel.
Luz,
Dormente,
Suavemente pinta o teu rosto a pincel.
Largo a espera,
E sigo o sul,
Perco a quimera
Meu anjo azul.
Fica, forte, sê amada,
Quero que saibas
Que ainda não te disse nada.
Pede-me a paz
Dou-te o mundo
Louco, livre assim sou eu
(Um pouco +...)
Solta-te a voz lá do fundo,
Grita, mostra-me a cor do céu.
Refrão
3) É difícil (Tempo – 1996)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Hoje acordei e senti-me sozinho
Um barco sem vela
Um corpo sem linho.
Amanheci e vesti-me de preto,
Um gesto cansado
O olhar do deserto.
Quando todos vão dormir
é + fácil desistir,
Quando a noite está a chegar
É difícil não chorar.
Eu não quero ser
a luz que já não sou,
Não quero ser o primeiro
Sou o tempo que acabou.
Eu não quero ser
As lágrimas que vês,
Não quero ser primeiro
Sou um barco nas marés.
Adormeci
Sem te ter a meu lado,
Um corpo sem alma
Guitarra sem fado.
Um sonho na noite
E olhei-me ao espelho,
Umas mãos de criança
Num rosto de velho.
Quando todos vão dormir
é + fácil desistir,
Quando a noite está a chegar
É difícil não chorar.
Refrão
Quando todos vão dormir
é + fácil desistir,
Quando a noite está a chegar
É difícil não chorar.
Refrão
4) Eu não sei quem te perdeu (Momento – 2002)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".
E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.
Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.
E partiu,
Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.
5) Momento, uma espécie de céu (Momento – 2002)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa) – com Cat (Catarina Rocha)
Uma espécie de céu,
Um pedaço de mar,
Uma mão que doeu,
Um dia devagar.
Um Domingo perfeito,
Uma toalha no chão,
Um caminho cansado,
Um traço de avião.
Uma sombra sozinha,
Uma luz inquieta,
Um desvio na rua,
Uma voz de poeta.
Uma garrafa vazia,
Um cinzeiro apagado,
Um Hotel numa esquina,
Um sono acordado.
Um secreto adeus,
Um café a fechar,
Um aviso na porta,
Um bilhete no ar.
Uma praça aberta,
Uma rua perdida,
Uma noite encantada
Para o resto da vida.
Pedes-me o momento,
Agarras as palavras,
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas.
Levas a cidade
Solta no cabelo,
Perdes-te comigo
Porque o mundo é um momento.
Uma estrada infinita,
Um anúncio discreto,
Uma curva fechada,
Um poema deserto.
Uma cidade distante,
Um vestido molhado,
Uma chuva divina,
Um desejo apertado.
Uma noite esquecida,
Uma praia qualquer,
Um suspiro escondido
Numa pele de mulher.
Um encontro em segredo,
Uma duna ancorada,
Dois corpos despidos,
Abraçados no nada.
Uma estrela cadente,
Um olhar que se afasta,
Um choro escondido
Quando um beijo não basta.
Um semáforo aberto,
Um adeus para sempre,
Uma ferida que dói,
Não por fora, por dentro.
Pedes-me o momento,
Agarras as palavras,
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas.
Levas a cidade
Solta no cabelo,
Perdes-te comigo
Porque o mundo é um momento.
6) Pontes entre nós (Luz – 2007)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Eu tenho o tempo,
Tu tens o chão,
Tens as palavras
Entre a luz e a escuridão.
Eu tenho a noite,
E tu tens a dor,
Tens o silêncio
Que por dentro sei de cor.
E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.
Eu tenho o medo,
Tu tens a paz,
Tens a loucura
Que a manhã ainda te traz.
Eu tenho a terra,
Tu tens as mãos,
Tens o desejo
Que bata em nós um coração.
E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.
7) Fazer o que ainda não foi feito (Longe – 2010)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Sei que me vês
Quando os teus olhos me ignoram,
Quando por dentro eu sei que choram.
Sabes de mim,
Eu sou aquele que se esconde,
Sabe de ti sem saber onde,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Trago-te em mim
Mesmo que chova no verão,
Queres dizer Sim, mas dizes: “Não”,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar.
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais.
Eu sei que dói,
Sei como foi
Andares tão só por essa rua
As vozes que te chamam e tu na tua,
Esse teu corpo é o teu porto é o teu jeito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Sabes quem sou,
Para onde vou
A vida é curva,
Não uma linha,
As portas que se fecham e eu na minha,
A tua sombra é o lugar onde me deito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar.
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais.
Tens uma estrada,
Tenho uma mão cheia de nada,
Somos um todo imperfeito,
Tu és inteira e eu desfeito,
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Eu sou mais do que te invento,
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pr’a contar.
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda,
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde demais. (x2)
8) Para os braços da minha mãe (Contramão – 2013)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa) – com Camané
Cheguei ao fundo da estrada
Duas léguas de nada
Não sei que força me mantém
É tão cinzenta a Alemanha
E a saudade tamanha
E o verão nunca mais vem
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa
Pisar a terra em brasa
Que a noite já aí vem
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Trouxe um pouco de terra
Cheira a pinheiro e a serra
Voam pombas
No beiral
Fiz vinte anos no chão
Na noite de Amsterdão
Comprei amor
Pelo jornal
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa
Pisar a terra em brasa
Que a noite já aí vem
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Vim em passo de bala
Um diploma na mala
Deixei o meu amor pra trás
Faz tanto frio em Paris
Sou já memória e raiz
Ninguém sai donde tem paz
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa
Pisar a terra em brasa
Que a noite já aí vem
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
9) Não vás embora hoje (Espiritual – 2018)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa) – com Elisa Rodrigues
Posso ter um mapa
E querer estar perdido,
Chegar em primeiro
E continuar vencido,
Correr o mundo inteiro
Sem nunca ter ido,
Não encontrar abrigo.
Pode o céu arder
E não estar atento,
A noite chegar
Com um frio dentro,
Nunca levantar,
Apesar do vento
Se não voares comigo.
Abraça-me de terra
Com beijos de pecado,
Na Paz da tua guerra
Há balas que são de perdão
E tiros que mudam de lado.
Não vás embora hoje,
A noite é um céu aberto,
Amarra as tuas velas de ouro
No meu peito.
Posso ter loucura
Com o coração,
Ver o horizonte
Preferir o chão,
Saber a resposta,
Não querer a razão,
Se nunca é domingo.
Posso ter a arma
E não ter gatilho,
Disparar Amor
Sem fazer sarilho,
Escrever um drama
Que faça rastilho,
E ainda estar sozinho.
Abraça-me de terra
Com beijos de pecado,
Na Paz da tua guerra
Há balas que são de perdão
E tiros que mudam de lado.
Não vás embora hoje,
A noite é um céu aberto,
Amarra as tuas velas de ouro
No meu peito.
Não temos muito tempo
Pra fugir deste deserto,
Amarra as tuas velas de ouro
No meu peito.
Pode a espada vir de frente
E o golpe ser de veludo,
De perdição.
Viver de um amor ausente,
Vir o barco de outro rumo,
Da Salvação.
Somos de um tempo diferente,
O teu verbo é o meu aprumo
De rendição.
Não vás embora hoje,
A noite é um céu aberto,
Amarra as tuas velas de ouro
No meu peito.
Não temos muito tempo
Pra fugir deste deserto,
Amarra as tuas velas de ouro
No meu peito.
10) Tudo o que eu te dou (Viagens – 1994)
(Pedro Abrunhosa/Pedro Abrunhosa)
Eu não sei
que + posso ser,
um dia rei,
outro dia sem comer.
Por vezes forte,
coragem de leão,
às vezes fraco,
assim é o coração.
Eu não sei,
que + te posso dar,
um dia jóias,
noutro dia o luar.
Gritos de dor,
gritos de prazer,
que um homem também chora
quando assim tem de ser.
Foram tantas as noites,
sem dormir.
Tantos quartos de hotel,
amar e partir.
Promessas perdidas
escritas no ar,
e logo ali eu sei...
Tudo o que eu te dou,
tu me dás a mim.
Tudo o que eu sonhei,
tu serás assim.
Tudo o que eu te dou,
tu me dás a mim,
tudo o que eu te dou.
Sentado na poltrona
beijas-me a pele morena
fazes aqueles truques
que aprendeste no cinema.
+, peço-te eu,
já me sinto a viajar.
Pára, recomeça,
faz-me acreditar.
Não, dizes tu
E o teu olhar mentiu.
Enrolados pelo chão
no abraço que se viu.
É madrugada
ou é alucinação,
estrelas de mil cores
extasy ou paixão.
Hmm, esse odor
traz tanta saudade.
Mata-me de amor
ou dá-me liberdade.
Deixa-me voar,
cantar, adormecer.
Tudo o que eu te dou,
tu me dás a mim.
Tudo o que eu sonhei,
tu serás assim.
Tudo o que eu te dou,
tu me dás a mim,
tudo o que eu te dou.